Resumo

Modelos socioecológicos enfatizam que a atividade física é um comportamento complexo e influenciado por variáveis de diferentes níveis. Assim, o objetivo desta tese de doutorado foi analisar a inter-relação entre os aspectos intrapessoais, interpessoais e ambientais no comportamento ativo e sedentário de adolescentes do ensino médio. Foi realizado um estudo descritivo correlacional de corte transversal, com uma amostra de adolescentes pertencentes a faixa etária de 15 a 17 anos, matriculados nas turmas de ensino médio, das escolas estaduais, do período diurno, do município de Curitiba, Paraná. A seleção da amostra foi realizada a partir do processo de amostragem por estágios múltiplos. O comportamento ativo foi mensurado pela atividade física de lazer (AFL) e deslocamento ativo para escola (DAE), o comportamento sedentário (CS) pela exposição ao tempo de tela e demais períodos em repouso no dia. Os aspectos intrapessoais (autoeficácia, barreiras), interpessoais (atividade física de pais, apoio social da família e amigos) e ambientais (acesso, segurança e estrutura), para atividade física e o comportamento sedentário, foram avaliados por meio de instrumentos validados na literatura para este fim. Foi utilizado a análise descritiva para os dados de prevalência e a modelagem de equações estruturais para as análises de associações (software SPSS versão 23.0 e R versão 3.6.1). A amostra foi composta por 1984 adolescentes (feminino n=1109 – 55,9%), média de idade 16,01 anos (±0,8), 12,3% da amostra foi classificada no excesso de peso. As prevalências foram: AFL 35% vs 31,8%, DAE 36,8% vs 38,4%, CS 75,3% vs 75,8%, para meninos e meninas respectivamente. Quando avaliado a inter-relação, os efeitos diretos positivos para AFL foram: possuir elevada autoeficácia para prática de atividade física (12%) e baixa percepção de barreiras para prática de atividade física (10%). Os efeitos diretos e negativos foram: possuir pais que cumprem a recomendação de atividade física no lazer (-7%) e possuir mães com alta escolaridade (-6%). Paralelamente, os efeitos indiretos positivos foram: sexo (ser do sexo masculino) através da percepção da autoeficácia (30%) e da percepção de acesso a estruturas (8%), alta escolaridade da mãe através da percepção de autoeficácia (2%) e da percepção de acesso a estruturas (4%), alta escolaridade do pai através da percepção de acesso a estruturas (6%), estado nutricional (estar no peso normal) através da percepção de autoeficácia (5%) e da percepção de acesso a estruturas (8%). E os indiretos negativos: sexo (ser do sexo masculino) através da percepção de barreiras (-29%), alta escolaridade do pai através da percepção de barreiras para prática de atividade física (- 4%), estado nutricional (estar no peso normal) através da percepção de barreiras (-6%). Em continuidade, os efeitos diretos positivos para DAE foram:  possuir pais que realizam deslocamento ativo (6%), possuir pai (3%) e mãe (5%) com alta escolaridade, perceber acesso a estruturas para prática de atividade física (16%). Efeitos diretos e negativos: receber o apoio social da família para prática de atividade física (-6%), perceber falta de segurança (-3%), estruturas e/ou manutenção para prática de atividade física como ruins (-15%). Acrescenta-se ainda os efeitos indiretos positivos: sexo (ser do sexo masculino) através da autoeficácia (30%), através da percepção de segurança (3%), e do apoio social da família (3%) e dos amigos (4%), alta escolaridade do pai através da percepção de segurança (6%) e alta escolaridade da mãe através do apoio recebido da família para praticar atividade física (8%), estado nutricional (estar no peso normal) através da elevada autoeficácia (5%), do apoio recebido da família (3%), da percepção de acesso a estruturas (8%) e da percepção de segurança (4%). E os efeitos indiretos negativos: possuir mães com altaescolaridade através da percepção de segurança (-5%). Posto isso, sobre o CS: pais com alta escolaridade (7%) teve efeito direto e positivo, pais que cumprem a recomendação de atividade física no lazer (-9%) e adolescentes que percebem locais como seguros (-5%) teve efeito direto e negativo. E os efeitos indiretos positivos foram: sexo (ser do sexo masculino) e escolaridade do pai através da boa percepção sobre as estruturas e menutenção dos locais disponíveis para praticar atividade física (18% e 10%, respectivamente), estado nutricional (estar no peso normal) e alta escolaridade da mães através da percepção sobre acesso à locais (8% e 4%, respectivamente). Abordagens socioecológicas podem ser promissoras no aumento da AFL, DAE e na redução do CS. Por outro lado, o estudo demonstra que existe um papel indireto das características da amostra (sexo, estado nutricional, escolaridade dos pais) nas percepções intrapessoais, interpessoais e ambientais que podem explicar importantes mecanismos do efeito na AFL, DAE e CS.


 

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