Resumo
O presente trabalho estuda os regimes de interação, sentido e visibilidade que fazem-ser e ver a prática do futebol de várzea na cidade de São Paulo. Para tal, se consideram os cidadãos, as comunidades e a metrópole como textos (na acepção semiótica do termo) e como sujeitos imbricados nas dinâmicas interativas da significante narrativa que é a modalidade varzeana, pela qual se fazem apreender, além da visão, pelo conjunto dos sentidos. Pretende-se compreender as ressemantizações de uma prática esportiva em específica prática de vida, que é o jogar futebol de várzea, efetuado por milhares de paulistanos, especialmente nas periferias. Tomando-se como objeto esta forma do esporte, busca-se responder: como sujeitos e comunidades de São Paulo interagem, fazem sentido, se fazem-ver e são feitos-ver pelo futebol de várzea? E quais as interações, sentidos e visibilidades que se fazem? A hipótese é a de que essa prática presentifica – para si mesmo, seus pares (outros sujeitos e comunidades) e a cidade além (e aquém) da várzea – identidades e valores que movem esses paulistanos na relação com a metrópole. O estudo adota como referencial teórico a Semiótica Discursiva desenvolvida por A.J. Greimas e seguidores (especialmente as colaborações de D.L.P. de Barros e J.L. Fiorin), a Sociossemiótica de E. Landowski e a abordagem da Semiótica Plástica realizada por A.C. de Oliveira, na esteira de J-M. Floch. O corpus compreende a pesquisa histórica do futebol (e dos diversos futebois que foram feitos-ser em São Paulo, incluindo a modalidade varzeana) e a vivência do objeto, em ato e em relação, nos anos de 2010 a 2012, pelas competições Copa Kaiser de Futebol Amador, Copa da Paz Dreher e ainda pelo time Palmeirinha do Paraisópolis. A conclusão é que tais paulistanos, nas suas narrativas de vida, enunciam pelo futebol de várzea os valores que regem sua existência. Ressemantizando o esporte que é “paixão do brasileiro”, esses jogadores, torcedores e moradores interagem, sentem e (se) fazem-ver um viver partilhado entre iguais, desfrutando um mesmo modo de vida na capital paulista. Os novos destinadores midiáticos capitalizados do futebol de várzea de São Paulo, como Kaiser e Dreher, fazem-sentir mudanças nas dinâmicas de geração de sentidos