Resumo

Introdução: este trabalho parte de uma pesquisa de doutorado, em andamento, e pretende debater resultados parciais da mesma, em particular no que se refere aos aspectos interseccionais que constituem as experiências e os sentidos vivenciados por mulheres na construção da carreira esportiva no futebol. O futebol é uma modalidade proeminente no cenário esportivo nacional. Na medida em que operaria por regras de funcionamento e aplicação universais, uma vez que válidas “Para times campeões e para times comuns, para ricos e para pobres, para negros e para brancos, para homens e mulheres, para jovens e idosos, nacionais e estrangeiros” (DaMatta, 2006, p. 164), haveria nele uma vocação tacitamente democrática. Tal vocação, contudo, mostra seus limites assim que destacamos o aspecto generificado e generificante do Esporte Moderno (Goellner, 2013), do qual o futebol é exemplar notório no Brasil. Além das distribuições desiguais de recursos econômicos, materiais e simbólicos para as categorias feminina e masculina da modalidade, que por si só já denotam gênero como categoria analítica útil (Scott, 1995), há de se ter em vista o histórico nacional de proibição da modalidade. Este vigorou por quase 40 anos, se amparando em argumentos que operavam a regulação biopolítica do corpo das mulheres, deixando marcas ainda influentes no processo de institucionalização da modalidade, seja ao nível gerencial e organizacional ou cultural. Por tais razões, não seria exagero, recorrendo às formulações beauverianas (Beauvoir, 1967), afirmar que as mulheres são constituídas como Outro no futebol. Elas têm impingida sobre si a marca da diferença em relação a um suposto original (Oyěwùmí, 2021), o futebol masculino, a qual é acionada como maneira de racionalizar os aspectos políticos, econômicos e culturais que se lhes opõem à prática do futebol, como recreação ou trabalho, contribuindo para perpetuar uma perspectiva binária essecialista acerca dos gêneros. Todavia, se há aí um elemento compartilhado pelas mulheres, não podemos deduzir dele uma absoluta condição de igualdade na opressão. Encontra-se aí o valor de recorrer ao conceito de interseccionalidades, que “permite-nos enxergar a colisão das estruturas, a interação simultânea das avenidas identitárias” (Akotirene, 2018, p. 14), como classe, raça, geração/idade, origem geográfica, orientação sexual, na tentativa de reconhecer as linhas que recortam esse Outro homogeneizado e explicitar os aspectos singulares de suas experiências. Objetivos: dar visibilidade à pluralidade de experiências que constituem as futebolistas sem desconsiderar a condição abjeta que partilham e que se materializa na informalidade e precariedade de seu trabalho.

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