Resumo
Analisa em perspectiva comparada, o lugar que os temas corpo e movimento ocupam nas políticas educacionais e prescrições curriculares para a educação infantil de Brasil e Chile. De maneira mais específica, discute e compara os modos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Bases Curriculares Educación Parvularia (BCEP) concebem e fundamentam o trabalho com o corpo e movimento das crianças na Educação Infantil de Brasil e Chile, identifica quais as concepções de corpo, movimento, criança e educação estão presentes nesses documentos, reflete sobre os modos que se estruturam os trabalhos pedagógicos com o corpo e movimento das crianças na educação infantil e discute as semelhanças e diferenças entre as propostas educativas analisadas. Metodologicamente opera um estudo comparado (FERREIRA, 2008, 2014; NÓVOA; CATANI, 2000; SCHRIEWER, 2018) pautado numa pesquisa bibliográfica e documental. A partir das categorias de análise, descreve cada contexto investigado e dialoga com as semelhanças e diferenças identificadas entre eles. Defende a tese de que existem mais semelhanças do que diferenças nos modos como Brasil e Chile pensam e propõem o trabalho pedagógico com o corpo e movimento das crianças de zero a cinco/seis anos. Nos discursos sobre a educação infantil chilena e brasileira, de maneira geral, o corpo e movimento ocupam lugar de destaque nas experiências de aprendizagem direcionadas às crianças de zero a dois anos. Apresentam-se marginalizados nas experiências de aprendizagens direcionadas às crianças de dois a quatro anos. De forma mais radical, naquilo que corresponde às propostas educativas para as crianças de quatro a seis anos, tamanha secundarização, nos permitiu, inclusive, falar do ‘não lugar’ do corpo e movimento nas aprendizagens esperadas para essas crianças. Portanto, falar do lugar do corpo e movimento na educação infantil, implica considerar, entre outras questões, o grupo etário ao qual a criança pertence. Ao analisar os atravessamentos curriculares que, de maneira mais direta, têm influenciado o trabalho com o corpo e movimento, no caso brasileiro, se destaca a presença da Educação Física como componente curricular das propostas pedagógicas municipais. No contexto chileno, sobressaem-se os programas desenvolvidos com finalidades de implementar uma ‘cultura’ de movimento no combate à obesidade e sedentarismo. Esta tese evidencia, portanto, que Brasil e Chile se aproximam nos discursos presentes nas bases, porém se distanciam nos modos como as tematizações do corpo e movimento nas práticas pedagógicas são atravessadas.