Resumo

O presente trabalho tem como ponto de partida uma etnografia realizada nas quatro edições da Copa Rebelde dos Movimentos Sociais, torneio-evento organizado pelo Comitê Popular da Copa de São Paulo entre dezembro de 2013 e julho de 2014. A proposta do torneio era reunir diversos movimentos sociais da cidade e ocupar o espaço público com um evento que congregasse a prática futebolista, apresentações teatrais, músicas e debates, promovendo uma crítica ao modelo de Copa do Mundo da Fifa. Três edições da Copa Rebelde foram realizadas em um terreno que abrigava antigamente o Terminal Rodoviário da Luz, no centro da cidade de São Paulo e uma outra edição do evento ocorreu durante uma manifestação do Movimento Passe Livre na Marginal Pinheiros, segunda via expressa mais importante da cidade, no mesmo momento em que era disputada a partida entre Uruguai e Inglaterra, válida pela primeira fase da Copa do Mundo da Fifa. Em suas quatro edições, a Copa Rebelde reuniu uma multiplicidade de pessoas e grupos, entre moradores do entorno do terreno da Luz, ativistas, jornalistas e militantes ligados a diversas lutas sociais. Em consonância com as observações de Toledo (2014), de que a antiga critica que enxergava o futebol como "ópio do povo" parece ter se deslocado para a Fifa e de que esse esporte, no contexto de realização da Copa do Mundo, ganhou centralidade em diversas lutas sociais e permitiu o surgimento de criativas intervenções no espaço urbano, pretendo apresentar algumas questões que surgiram da observação e participação nesses eventos e que se relacionam as propostas desse Grupo de Trabalho. Uma delas foi a constante negociação sobre os valores que deveriam conduzir a prática esportiva na Copa Rebelde, encarada pelos organizadores do evento também como um momento de confrontação ao modelo de futebol representado pela Fifa. Dessa maneira, os jogos não tinham juízes, incentivava-se a formação de times "mistos", onde mulheres e homens jogariam juntos, e condenava-se o "excesso de competitividade" dos participantes. Ainda, a partir da trajetória de alguns dos idealizadores do evento, marcadas pela participação em eventos de caráter semelhante em outras localidades e na inserção em redes de ativismo transnacionais, seria possível problematizar o estatuto do local e do global na produção dessas criticas ao mega-evento da Fifa. Até que ponto esses arranjos, como a Copa Rebelde, podem ser entendidos somente como respostas locais as forças da globalização econômica? Esse recorte parece interessante por elucidar outra perspectiva e escala na circulação transnacional de conhecimento, atores, práticas e repertórios que não somente a conduzida pelo modelo Fifa.

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