Justiça Social e Interseccionalidade nas Lentes da Mídia: Representações dos Jogos Olímpicos de Paris 2024
Por Kayke Santana de Lima (Autor), Luiz Gustavo Bonatto Rufino (Autor).
Em XX Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
Este estudo explora a temática da justiça social, focando na promoção da igualdade de oportunidades e na superação de barreiras que perpetuam a desigualdade, a exclusão e a discriminação em contextos sociais e culturais. A justiça social envolve assegurar que todos, independentemente de sua origem social, econômica, cultural, racial ou de gênero, tenham acesso equitativo a direitos e práticas sociais, como educação, esporte e lazer. Esse conceito está ancorado na interseccionalidade, que permite entender como diferentes formas de opressão e privilégio interagem e se sobrepõem, criando experiências únicas de desigualdade para diversos grupos sociais. No campo da Educação Física, essas perspectivas se revelam nas práticas corporais, incluindo o esporte, que carregam significados sociais e são permeadas por questões de gênero, raça e identidade sexual. Diante dessa construção teórica, o presente estudo tem como objetivo analisar a representação midiática de acontecimentos dos Jogos Olímpicos de Paris – 2024 relacionados à justiça social. Para tanto, foram analisadas reportagens publicadas em grandes veículos de mídia, como a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, observando o teor e o direcionamento político e social das abordagens. Essa análise da mídia visa compreender como discursos sobre igualdade e justiça social são representados em um evento esportivo de magnitude global, que atrai audiências e visibilidade considerável e influencia debates sobre valores sociais. Os dados preliminares apontam para três momentos-chave de análise: primeiro, a controvérsia gerada pela cerimônia de abertura dos Jogos, que despertou discussões sobre possíveis implicações políticas e representações religiosas ambíguas. Esses aspectos suscitaram questionamentos sobre a intenção e a neutralidade política da organização dos Jogos, especialmente em um contexto de intensa visibilidade global. O segundo momento analisa a repercussão midiática em torno da boxeadora argelina Imane Khelif, campeã do peso meio-médio. A atleta foi alvo de especulações e ataques na mídia, incluindo desinformações e fake news que questionavam sua identidade sexual, sugerindo uma possível transgeneridade. Esse episódio trouxe à tona questões de gênero e discriminação no esporte, expondo como o corpo das atletas é monitorado e controlado pela mídia, muitas vezes de maneira invasiva e preconceituosa. O terceiro momento envolve o protagonismo de atletas brasileiras, como Rebeca Andrade, da ginástica artística, e Beatriz Souza, do judô, ambas medalhistas de ouro. Suas trajetórias e conquistas inspiraram debates sobre as intersecções entre gênero, raça, corpo e imagem corporal, mostrando como suas histórias desafiam estereótipos e promovem discussões sobre representatividade e inclusão no esporte. A análise inicial das reportagens revelou que o viés de cada veículo influencia diretamente a representação das temáticas de justiça social. Foram identificadas três categorias principais: reportagens que apresentam visões plurais, reportagens com viés preconceituoso baseado em desinformação e reportagens de viés crítico, que buscam evidenciar questões de justiça social em suas análises. Com o desenvolvimento contínuo da investigação, espera-se que o estudo permita uma visão mais aprofundada das representações de justiça social na mídia brasileira em relação aos Jogos Olímpicos, e de como essas narrativas refletem ou contestam valores sociais, políticos e culturais.