Resumo
Integra
O governo federal discute investigar sobre o dinheiro público que o extinto Ministério do Esporte destinou às confederações. Os focos da varredura seriam os contratos (verba orçamentária) e os patrocínios das estatais. Porém, para se ter uma verdadeira “Lava Jato do Esporte” deveriam incluir na varredura os projetos da Lei de Incentivo e os gatos – ops, errei ... os gastos dos megaeventos esportivos.
Estranhamente, o esquema de corrupção identificado em confederações pelo Ministério Público e pela Polícia Federal do Rio de Janeiro, há cinco anos, não evoluiu. Ali estava o caminho das pedras de uma rede de fraudes com o dinheiro do esporte. Além, claro, das parcerias olímpicas com governos e empreiteiras.
A decisão do governo de investigar as denúncias surge quando empresas estatais começam a abandonar o apoio ao alto rendimento. E coincide com a reportagem da Folha de S. Paulo, no domingo, contando que, só em 2018, sete estatais investiram R$ 381milhões em 73 contratos.
Em tese, o esporte enfrenta a sua pior crise das últimas décadas, atingindo a estrutura do sistema. No início, denúncias de corrupção envolveram cartolas da elite, como o então comandante olímpico, Carlos Arthur Nuzman, e o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, condenado pela Justiça dos Estados Unidos.
Os problemas se agravaram e o terror, agora, é a escassez de dinheiro público nas confederações. Por extensão, as federações agonizam. Na iniciativa privada, Nike, Nissan e Bradesco não renovaram contrato com o Comitê Olímpico do Brasil.
O drama cresceu em janeiro deste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro chaveou o cofre público que abastecia o alto rendimento; só de patrocínio das estatais a perda foi de 50%, coisa de R$ 190 milhões, ainda segundo a Folha.
É preciso lembrar os tempos de fartura. Foi em 2003, no primeiro ano de mandato do ex-presidente Lula, que o esporte entrou nas prioridades do governo. A grana saía do Orçamento da União, da Lei de Incentivo, das Forças Armadas, Caixa Econômica, Petrobras, Infraero, Banco do Brasil, Correios, Eletrobras, BNDES, e os tradicionais repasses das loterias federais, via Lei Piva. Fora os investimentos dos estados e municípios, no Rio de Janeiro, principalmente, sede do Pan-Americano de 2007 e demais megaeventos.
Com tanto dinheiro, nada faltou à preparação da elite dos atletas aos Jogos Rio 2016. E estava garantida a primeira classe dos nossos “esforçados dirigentes” nas viagens internacionais. Nessa festa esportiva o futebol entrou na farra, e mais de cem clubes tiveram perdoada boa parte de suas dívidas fiscais, que beirava os R$ 5 bilhões. O saldo está sendo pago em até 240 meses. Generosidades da então presidente Dilma Rousseff.
Nesse panorama geral faz sentido o governo investigar para saber quem e como lucrou com os grandes eventos esportivos. O contribuinte ficará agradecido se parte do dinheiro, no mínimo, for devolvido. Ilusão? Nada disso! Os políticos e poderosos empreiteiros da Lava Jato que se mudaram para Curitiba que o digam.