Resumo
Como, Quando e Onde ocorre o lazer para as pessoas com deficiência? Esta é a pergunta central deste projeto, que ganha forma na medida em que se reconhecem duas questões centrais que geram seu interesse: a primeira, largamente publicizada e reconhecida, que marca em relatórios nacionais e internacionais processos de exclusão desta parcela do gênero humano; e a segunda, relativa ao processo de organização material e simbólica do espaço urbano envolvendo as práticas de lúdicas de divertimento. Ao procurar saber como ocupam espaços urbanos e dialogam com seus nexos e contradições esta tese pretende pensar como se configura o desafio do acesso e participação social frente a este fenômeno, considerando no cenário da microparticipação (de uma Associação Cultural, um Projeto Educativo e um Espaço Esportivo) o lócus empírico do estudo junto a pessoas com deficiência física (cadeirantes). Para a tarefa se procura entrecruzar em perspectiva superadora os estudos do lazer e assumir os Estudos da Deficiência, ou Disability Studies, nome mais conhecido, como ancoramento teórico. Este último, grupo de teóricos e ativistas, pouco estudado em território nacional, está envolto nos debates mais atuais sobre o Modelo Social de deficiência, que reconhece a deficiência como uma construção social e não biológica e individual, como muito ainda se vê. Com uma proposta metodológica de abordagem qualitativa em base exploratória e descritiva o estudo opera metodologicamente por meio de uma pesquisa documental, revisão bibliográfica, registro de campo e entrevistas a 22 atores sociais (12 pessoas com deficiência física, 5 acompanhantes, 4 professores e 1 gestor da associação cultural). Os resultados apontam para um lazer experimentado de maneira individualizada, dependente de outras pessoas e negociado em termos de formato para seu acesso. Do ponto de vista de espaços e lugares a inacessibilidade arquitetônica, os transportes, a diferença e o preconceito, além do espaço privado, em detrimento do público, tem sido barreiras relatadas. E, por fim, embora o lazer tenha à princípio uma idealização de diferentes possibilidades em seu acesso duas questões marcam sua impossibilidade de vivência plena: o preconceito e a manifestação da cultura lúdica alienada ao consumo presentes na busca e fruição do fenômeno. O estudo conclui que a pessoa com deficiência ainda é vítima de um tratamento desigual, o que inspira afirmar que, em algumas situações, espaços de lazer não abrigam uma dimensão coletiva. Depreende-se da afirmação, dentre outras coisas, que a participação social não está ligada apenas a constatação empírica do indivíduo, mas a estrutura social e historicidade que o envolve. A dificuldade de entender a deficiência, e falta de outras oportunidades tem apresentado sinais de pouca evolução neste sentido, principalmente quando nos remetemos ao que historicamente o Modelo Médico de interpretação da deficiência produziu, discriminando institucionalmente a forma de reconhecer estes indivíduos.