Resumo

Resumo: A partir da leitura de duas obras de referência para os estudos do lazer, Sociologia empírica do lazer de Joffre Dumazedier (1974) e Psicosociología del tiempo libre de Frederic Munné (1980), foi possível perceber que os estudos sobre o tema emergiram primeiramente nas áreas das ciências humanas e da filosofia no século XX e se estabeleceram na área da sociologia nas décadas de 1920-30, especialmente nos EUA e na Europa. No contexto brasileiro, contudo, notamos a consolidação dos estudos do lazer dentro do campo da educação física, em que se concentram grande parte de pesquisadores, cursos de pós-graduação, eventos científicos e congressos. Sem desconsiderar seu caráter multidisciplinar, pretendemos compreender a trajetória particular dos estudos do lazer no Brasil, no que corresponde a sua vinculação ao campo da educação física. Assim, o problema da presente pesquisa consistiu em investigar a relação entre educação física e lazer, na primeira metade do século XX, por meio da análise das correspondências entre seus respectivos pensamentos, valendo-se do conceito teórico-metodológico de afinidades eletivas. Esse conceito, presente nos escritos de Max Weber e Michel Löwy, permitiu a percepção de convergências mútuas entre as duas áreas do conhecimento. Para desenvolver esse estudo, fizemos a análise de obras de Fernando de Azevedo, sobre o campo da educação física, e de Ethel Bauzer Medeiros, Nicanor Miranda e Arnaldo Süssekind, autores do lazer que alcançaram destaque no cenário nacional da época. Com a emergência de uma sociedade industrial moderna na primeira metade do século XX, surgiu no Brasil um projeto de construção nacional que demandava a formação do "novo homem brasileiro". Podemos perceber que as noções de controle social e de formação para o trabalho estavam presentes nessas concepções de indivíduo e de nação, e tanto o lazer quanto a educação física foram orientados para esse objetivo. A partir da análise das obras selecionadas, pudemos identificar duas categorias que constituíram os discursos das duas áreas: corporeidade e educação, perpassadas pela ideia de controle social e de formação para o trabalho, como orientadoras tanto na educação física, quanto no lazer e as chaves a partir das quais pudemos perceber as afinidades entres as duas áreas do conhecimento. Concluímos, portanto, que esses elementos apontam convergências entre o campo da educação física e os primeiros estudos do lazer. Essas categorias foram propagadas e articuladas dentro dos discursos da educação física e do lazer, indicando que as convergências entre os dois fenômenos são suficientes para compreender a aproximação e, posteriormente, a consolidação dos estudos do lazer no campo da educação física brasileira. Logo, a educação física e o lazer conformavam espaços e tempos privilegiados (seja dentro da escola, seja durante o tempo livre) para colocar tal mentalidade e projeto em prática

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