Resumo
Frente à intensificação do mercado concorrencial capitalista, com a desregulamentação econômica em nível internacional, as empresas voltam seus investimentos para regiões e setores de maior liquidez e em busca de maiores taxas de lucro. Nesta direção, seguindo a lógica da acumulação flexível, bens e serviços culturais revelam-se como mercadorias de superfluidade, assegurando assim, uma rápida valorização do capital. Não é por acaso, portanto, que aumenta a oferta e o consumo de bens culturais ligados ao campo do lazer. Na contramão dessa tendência estão os/as integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) buscando alternativas de construção de uma contra-hegemonia capaz de edificar um novo projeto societário, anseios transformadores que passam pelo campo do lazer e da educação. Diante disto o trabalho ora apresentado buscou, através da pesquisa qualitativa com inspiração na fenomenologia existencial, compreender o significado atribuído ao lazer na percepção de integrantes do MST e descrever os processos educativos que permeiam essa prática social em áreas de reforma agrária encampadas pelo Movimento no município e região de Ribeirão Preto. Houve a realização de uma revisão de literatura que contemplou temáticas relacionadas ao estudo, como práticas sociais, processos educativos, lazer, educação, questão agrária e MST que se constituíram enquanto bases teórico-conceituais para o estudo. Após cuidadosa inserção, e um período de convivência conhecendo e sendo reconhecido por homens, mulheres, crianças, jovens, adultos/as e idosos/as integrantes do desse movimento social, os acontecimentos foram registrados em Diários de Campo, totalizando um número de quatorze. A análise dos Diários construídos ao longo do estudo passou pelas fases de análise ideográfica (identificação das unidades de significado) e nomotética (construção das categorias temáticas e organização na Matriz Nomotética) e construção dos resultados. A construção dos resultados se baseou diretamente nos dados organizados na Matriz Nomotética que revelou as seguintes categorias: A) O lazer como instrumento de luta; B) Apropriação desigual do lazer pelo gênero feminino; C) Formação humana no dia-a-dia do MST: organização, cuidados ambientais, solidariedade, coletividade, partilha e resistência. O estudo aponta para a compreensão de que as atividades de lazer podem e devem proporcionar o (re)conhecimento das responsabilidades sociais, o auto-reconhecimento, (re)conhecimento do outro, através do caráter socializador dessas experiências, despertando para a promoção do sentimento de solidariedade e para a riqueza das possibilidades de se viver experiências no plano cultural ligadas ao contexto dos/as trabalhadores/as rurais do MST. Manifestações que se expressam nas artes, nos esportes, na militância política, na vida social mais ampla. O caráter revolucionário de uma práxis no campo do lazer está condicionado à sua acuidade em apreender as determinações, ou mediações, de ordem econômica, política, cultural e histórica, da sociabilidade tecida sob os auspícios do capital mundializado, com suas forças e contradições, e ao mesmo tempo, vislumbrar os indícios de onde se aglutinam os interesses e as forças, as debilidades e os limites da classe trabalhadora.