Resumo
O presente estudo enfoca atividades de lazer em ambientes naturais, privilegiando as trilhas ecológicas desenvolvidas ao redor do Pico do Itacolomi, situado no parque estadual de mesmo nome, em Ouro Preto (MG). O objetivo foi investigar a dinâmica que norteia o desenvolvimento dessas trilhas, buscando compreender diversos aspectos que aí se entrelaçam, os quais vão desde as inclinações turísticas da cidade de Ouro Preto até as sensações subjetivas e experiências corporais que surgem a partir da atividade. A pesquisa, de natureza qualitativa, apoiou-se no referencial da análise cultural proposta por Geertz (1989), utilizando dois instrumentos para a obtenção de dados: as observações e as entrevistas. A partir da análise realizada, foi possível verificar que o Pico tem significativo destaque no cenário ouropretano e que, entretanto, a sua visitação é limitada por certos fatores, como a orientação turística da cidade, voltada para o patrimônio histórico do lugar. Apesar desse fato, diversos residentes e turistas fazem a trilha para visitá-Io, na maioria das vezes organizando-se em grupos cuja formação pode ser relacionada às tribos contemporâneas referidas por Maffesoli (1998). Na experiência do lugar, são relatadas as sensações de paz e tranquilidade, ambas associadas, de certa forma, à vivência de um suposto distanciamento da dinâmica acelerada do dia-a-dia, cujo ritmo, impessoal, é marcado pelas batidas do relógio. A sensação de liberdade também é pontuada, mas se associa tanto com a perspectiva temporal anunciada anteriormente quanto com a espaciosidade que a presença no Pico possibilita experimentar. No tangente às interações estabelecidas com a natureza, é possível identificar nos trilheiros uma postura que busca ir ao encontro da preservação do lugar, embora certa limitação esteja presente na forma como compreendem a dinâmica ambiental, restringindo-a a seus aspectos físicos imediatos, como a questão do lixo, por exemplo. De qualquer forma, um canal privilegiado de percepção parece manifestar-se nessa ocasião, presente tanto nas falas quanto nas atitudes daqueles que participam da atividade, fazendo crer que esta é uma oportunidade profícua para a reflexão e/ou intervenção no âmbito das questões referentes ao meio ambiente. Finalmente, a prática da trilha sinaliza, em determinados trechos do caminho, uma oportunidade privilegiada para o (re)conhecimento corporal, proporcionando a experimentação de possibilidades e limites e permitindo provar sensações corporais diversas, que podem ir da exaustão ao entorpecimento.