Resumo
O estudo questiona como se constituem os trajetos de lazer noturno dos frequentadores da Rua da Lama. A metodologia utilizada foi a etnografia, tendo como principal referência o conceito de “descrição densa”, do antropólogo Clifford Geertz, e, como instrumentos de pesquisa, observações, anotações, conversas informais e entrevistas semiestruturadas. Para isso, vivenciei presencialmente as formas de lazer e seus trajetos nos eventos, no interior dos bares, nas calçadas e na rua, no ano de 2019. Durante o ano de 2020 e parte de 2021, tempo de ocorrência da pandemia de COVID-19, a pesquisa foi passada, num primeiro momento, ao ambiente virtual, onde investiguei o lazer dos interlocutores anteriormente contactados. Posteriormente, passei a me reinserir presencialmente no campo de pesquisa, mesclando estratégias virtuais e presenciais. Os resultados desta pesquisa apontam que a Rua da Lama é um ambiente complexo, que resguarda formas de lazer muito diferentes em suas noites. Isso faz com que o lazer noturno no local seja, para alguns, sinônimo de caos, enquanto, para outros, uma forma de democratização do ambiente. Os trajetos durante as noites têm como finalidade central a busca pela continuidade da diversão iniciada num primeiro espaço de lazer, sendo constituído/mobilizado por aspectos ligados à compatibilidade de gostos musicais e de público, além de estar relacionado ao poder aquisitivo. A Rua da Lama é apropriada por seus frequentadores como um ambiente central de lazer, e como um local de realização de esquenta e saideira. Durante o período de isolamento social, percebi nos interlocutores dificuldade em gerir o próprio tempo. Essa situação criou o embaralhamento entre o tempo de trabalho e o tempo que, outrora, era utilizado para o lazer. Na ocasião de retomada presencial do lazer noturno na Rua da Lama, notei características do momento de “normalidade” e reminiscências do período pandêmico. Isso faz com que, em alguns casos, inexista o trajeto de lazer noturno, ou, quando ocorre, seja um trajeto de lazer noturno derivado, que ao invés de ligar-se às boates (como é tradicional), conecta-se às sociais e as festas noturnas clandestinas.