Los Huevos de La Hinchada: a Racionalidade da Violência nas Barras de Argentinas.
Por Ailton Laurentino Caris Fagundes (Autor).
Resumo
Geralmente apresentadas como gangues violentas e irracionais, as barras bravas argentinas evidenciam aspectos de identidade étnica, política e territorial; ao se assumirem representantes da alma do clube, elas apresentam características sociais, econômicas e culturais profundas. Para compreender esse fenômeno é importante pensar que nas grandes cidades o bairro é um componente básico da vida cotidiana e do imaginário popular, é um âmbito de igualação, participação e solidariedade, mas também cenário da distinção social que edifica um certo ethos barrial construído sobre a base da diferença e da alteridade. Na região metropolitana de Buenos Aires existem dezenas de clubes e barras, cada uma delas carrega um importante sistema de valores baseado em questões de honra, masculinidade e companheirismo e que, de modo geral, são desprezadas pelas políticas públicas que buscam conter a violência que, por conta disso, não apenas tem falhado nos seus propósitos como, muitas vezes, contribuído para o fortalecimento de lideranças criminosas e atividades ilícitas. Controlar uma barra significa dominar territórios e valores simbólicos e, com isso, conquistar poder político, vantagens econômicas e prestígio social, por conta disso, e pelo fato de não possuírem estrutura definida, a violência é muito mais comum no interior de cada barra do que nas disputas entre elas. Este trabalho pretende analisar as identidades e o comportamentos de quatro dessas barras a partir de três elementos: a identidade na relação com o bairro de origem do clube, os conflitos por poder e honra e as disputas simbólicas entre elas. A hipótese inicial é a de que a construção dessa identidade se dá a partir do discurso de uma certa alteridade que confere sentido às relações de oposição e aos conflitos com os grupos rivais e que essa alteridade sustenta valores morais sobre os quais se assentam as lideranças e o jogo de poder que, na falta de qualquer arbitragem externa, leva à disputas internas e ao uso da violência como linguagem. De um lado tenta-se mostrar como uma barra é constituída a partir de determinados valores que lhes dão coesão interna e, de outro, como os valores coletivos são absorvidos pelos membros e utilizados como símbolo de distinção entre os torcedores dos mais diversos clubes.