Resumo

Discute-se e questiona-se, aqui, a existência de um centro e suas margens na cultura do futebol brasileiro; e tais reflexões se dão sob a referência de conceitos indispensáveis à compreensão dos clubes de futebol e de sua existência: lugar e território. Para tanto, buscou-se investigar a idealização, construção ideológica e cristalização deste centro representado pelas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo ao longo do século XX, através da imprensa escrita, do rádio e da televisão, além da busca pelos primórdios do futebol no Brasil e o seu posterior desenvolvimento. A relação dos clubes com seus lugares de origem e a mundialização do futebol moderno enquanto espetáculo de massas também merece destaque. Em outra frente de trabalho aberta pelo desenvolvimento da tese, pesquisou-se a participação dos principais clubes brasileiros no decorrer de quatro das maiores competições de futebol no Brasil: Taça Brasil: 1959-1968; Torneio Roberto Gomes Pedrosa: 1967-1970; Campeonato Brasileiro: 1971-2013; e Copa do Brasil: 1989- 2013. Um mosaico de clubes e suas participações tem lugar central na discussão sobre o imaginário cultural comum, que localiza nas cidades do Rio e de São Paulo o centro do futebol nacional, redundando na criação, em paralelo, de suas margens e, algumas delas, já adquirem nos gramados a condição de centralidade. A hegemonia do centro nas conquistas destas competições nos mostrou claramente o papel fundamental da mídia, da ideologia e do poder econômico, que atuam explícita ou implicitamente na fabricação de resultados de partidas, tanto na alteração de regulamentos das competições após o seu início, bem como na atuação decisiva de árbitros e seus erros inadmissíveis, quase sempre contra os clubes exteriores ao eixo Rio/São Paulo, sem contar as vezes em que determinada competição foi decidida na Justiça Comum. Concluiu-se que este centro, fabricado e cristalizado na cultura do futebol nacional, não se sustenta após o escrutínio geral levado ao cabo pela pesquisa, e que, mais do que nunca, mostra-se como um produto, uma mercadoria vendável e adaptável às necessidades daqueles que comandam, direta ou indiretamente, os rumos do futebol no Brasil.

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