Resumo

Este artigo problematiza as mediações do lulismo com o futebol, sustentando que a modalidade esteve fortemente associada ao simbolismo popular e poder carismático de Lula. Seu objetivo consiste em identificar e caracterizar as matrizes discursivas de Lula sobre o futebol. Sob o ponto de vista metodológico, se apoiou em levantamento documental construído a partir dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva transcritos e disponíveis no portal eletrônico da Biblioteca da Presidência da República, referente ao período de 1º de janeiro 2003 a 31 de dezembro de 2010, que corresponde aos seus dois mandatos. Conforme busca utilizando simultaneamente os descritores “discurso”, “Lula” e “futebol”, foram selecionados 420 discursos, o que corresponde a 16,27% do total dos 2582 discursos disponíveis na base. Para o tratamento deste material, foi utilizado o método de análise de conteúdo Como resultado, identificamos três matrizes discursivas: a metafórica, pela qual a linguagem do futebol é usada como recurso identificatório e de projeção; a corintiana, na qual prevalece o discurso torcedor e opinativo; a pragmática, que acompanha a agenda modernizante para a realização da Copa do Mundo FIFA 2014. Concluimos que a presença do futebol no discurso de Lula foi marcante, algo que reflete sua formação cultural. Nunca nenhum presidente havia falado tanto de futebol, até porque, diferentemente dos antecessores, ele dominava seus códigos. Lula usou e abusou de sua linguagem para se comunicar, cultivando o sentimento do popular, do nacional e do moderno. Foi com estes sentidos que se pronunciou através do futebol e sobre o futebol, seja por meio da metáfora, pela paixão corintiana, traduzindo um discurso torcedor e opinativo, ou do registro de suas ações envolvendo a modalidade. Em termos gramscinianos, Lula comandou um imenso avanço orgânico do consentimento, do carisma pop e da cultura anticrítica, e a linguagem do futebol ajudou.
 

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