Lutas de Representações Entre os Métodos Ginásticos no Processo de Escolarização da Educação Física Brasileira (1932-1960)
Por Juliana Martins Cassani Matos (Autor), Lucas Oliveira Rodrigues de Carvalho (Autor), Renato Pereira Coimbra Retz (Autor), Amarílio Ferreira Neto (Autor), Wagner dos Santos (Autor).
Em XV Congresso de História do Esporte, Lazer e Educação Física - CHELEF
Resumo
Este trabalho compõe um conjunto de pesquisas oriundas da Tese de Doutorado (CASSANI, 2018), que analisa os processos com os quais a imprensa periódica de ensino e de técnicas se constitui em dispositivos de uso didático-pedagógico, contribuindo para a escolarização da Educação Física. Especificamente, esse estudo possui como objetivo evidenciar as lutas de representações (CHARTIER, 1990) entre os articulistas, cujo propósito era definir os métodos ginásticos que orientariam o ensino da Educação Física. Ele toma como referência os pressupostos teórico-metodológicos da História Cultural (CHARTIER, 1990) e assume como fonte a imprensa periódica de ensino e de técnicas da EF (1932-1960). O corpus documental foi delimitado pela leitura prévia do título dos artigos presentes no Catálogo de periódicos de educação física e desportos (FEREIRA NETO et. al., 2002) e da leitura na íntegra de todos os textos. Dos 1.783 artigos mapeados, selecionamos, para este trabalho, aqueles relacionados com o ensino da ginástica (315). Dentre os assuntos abordados por esses artigos, enfatizavam-se o impacto dos métodos ginásticos na criação de políticas públicas educacionais em prol da Educação Física – como a sua obrigatoriedade nos programas escolares, o uso de manuais oficiais, a construção de espaços e a criação de Institutos especializados. Especificamente, as tensões entre os Métodos Sueco e Francês recaem sobre a “falsa” apropriação do Método desenvolvido na França àquele proposto por Ling. Em prol do método criado pela Escola de Joinville Le-Pont, Molina (1932) compara ambos os métodos e mostra, para o leitor, os erros da ginástica sueca em face da Fisiologia. Nesse caso, a ausência de adaptação anatomofisiológica a homens, mulheres, crianças e idosos, com exercícios caracterizados como enfadonhos e monótonos – diferente do que ocorria no Método Francês. O uso do Regulamento N. 7 traria uniformidade à Educação Física, por meio de diretrizes claras e explícitas ao ensino dessa disciplina. Por outro lado, as críticas lançadas ao método alemão referem-se à ausência de alicerces teóricos para orientar o trabalho com as crianças, voltando-se especificamente para o treinamento militar (WARNER, 1935). Contudo, a análise das fontes oferece pistas de que as restrições em relação ao uso desse método não eram unânimes, tendo em vista a publicação de 23 matérias que ofereciam as suas bases teóricas e prescrições dos exercícios propostos pela ginástica alemã. Diante do exposto, “passar em revista” os métodos ginásticos europeus também implicou, aos intelectuais, dar visibilidade aos processos de disputa e negociações entre eles, com o objetivo de convencer o leitor sobre aquele que melhor orientaria a Educação Física.