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A medicina amplia recomendações para evitar males cardíacos no futuro e apresenta novas armas para combater os fatores de risco

Sofrer do coração está cada vez mais comum. À parte as tormentas sentimentais do mundo, o que tem preocupado a medicina é o número crescente de portadores de alguma doença cardiovascular. Atualmente, elas provocam a morte de 17 milhões de pessoas no planeta por ano – no Brasil, são mais de 300 mil mortes. E o índice global pode saltar para 25 milhões em 2020, segundo a Organização Mundial de Saúde. É verdade que a ciência avança procurando encontrar formas de tratar esses males, o que ajuda a diminuir a mortalidade. O problema é que a humanidade, por vários motivos, está mais exposta ao risco de ter uma complicação (entupimento das artérias, por exemplo) hoje do que tempos atrás. Com isso, os especialistas estimam que as chances de o órgão estar com o futuro comprometido vêm aumentando.

A razão disso está, em boa parte, no cotidiano. “A vida de hoje facilita o aparecimento de enfermidades cardíacas. Ela é menos saudável”, afirma o médico Juarez Ortiz, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Muitas pessoas não se alimentam bem, não se exercitam e adotam outros hábitos ruins, como incluir o cigarro no dia-a-dia. Esses fatos estão relacionados ao surgimento de diversas doenças. Entre elas, a obesidade, a diabete e a hipertensão. Somadas, essas enfermidades representam perigo enorme para o coração. Se houver casos de males cardiovasculares na família, é mais um elemento – e este é muito importante – que depõe contra a saúde do músculo cardíaco. Esses fatores de risco são conhecidos. Mas normalmente apenas se presta atenção neles quando algum estrago já foi feito. O que ocorre é que só se avaliam as condições do órgão quando se atinge a meia-idade. É um erro, sublinha a American Heart Association (AHA), entidade que reúne cardiologistas dos Estados Unidos e é considerada uma das melhores do mundo no campo da prevenção.

Na semana passada, a entidade relançou sua cartilha preventiva, com atualizações baseadas em estudos recentes e medidas criadas por especialistas de outras áreas, como a Associação Americana de Diabete. Desde 1997, a AHA não mexia nas recomendações. O lançamento de novas diretrizes é, na verdade, um esforço para evitar que as doenças cardíacas sejam detectadas tarde demais e continuem a avançar. O passo mais significativo nesse sentido é a orientação de que a primeira avaliação da saúde do órgão seja feita aos 20 anos. “As medidas estão mais abrangentes porque o número de casos não está diminuindo. Não fazíamos a avaliação em quem é tão jovem, a não ser que fosse filho de alguém com problemas”, comenta Ricardo Pavanello, do Hospital do Coração, em São Paulo.

De acordo com as novas diretrizes da associação americana, nessa idade devem-se fazer vários exames para saber como estão a pressão arterial, a taxa de açúcar no sangue e os níveis de colesterol, entre outros dados. O médico irá conferir o histórico de doenças cardiovasculares e o estilo de vida. Se estiver tudo bem, a próxima visita pode ser feita dali a cinco anos. Se houver mais de dois fatores de risco, é preciso cuidar melhor do coração. A checagem deverá ser menos espaçada também. De dois em dois anos, sugere a AHA. Para quem está na época de se dedicar a baladas e namoros, no entanto, pensar na prevenção é raro. O estalo se dá mais em quem conhece de perto o sofrimento do coração. A enfermeira paulista Priscila Nascimento, 22 anos, é um desses casos. “Sou de uma família de cardíacos que sempre foram sedentários. Prefiro me proteger”, conta. Ela ainda não testou a saúde do órgão, mas faz exercícios para evitar dramas futuros. A apresentadora Maria Paula, 31 anos, também resolveu se cuidar mais por ter na família um caso de infarto e outro de hipertensão. “Faço exercícios, tenho alimentação saudável e fiz um check-up há três. Está tudo em ordem”, comemora.

Outro destaque da nova cartilha da AHA é a recomendação de que, aos 40 anos, qualquer indivíduo passe por uma avaliação mais específica (a ser repetida também a cada cinco anos 
ou mais frequentemente se houver problemas). Por meio do cruzamento de diversas informações, esse check-up determinará o risco de a pessoa sofrer infarto nos próximos dez anos. Os especialistas americanos consideram essa medida praticamente obrigatória. “A tabela desse cálculo de risco é importante. Isso porque muita gente pode ter fatores de risco e não apresentar sintomas”, diz o cardiologista Antonio Carlos Chagas, do Instituto do Coração (Incor), de São Paulo.

Em relação aos procedimentos rotineiros de check-up, foi valorizado um item que pode parecer curioso. Além de conferir o Índice de Massa Corporal (IMC) – obtido pela divisão do peso pela altura ao quadrado –, o médico deve conferir o tamanho da circunferência da cintura. “A gordura que se acumula na barriga é a pior. Ela libera substâncias no sangue que elevam o colesterol ruim (LDL) e diminuem o HDL (colesterol bom)”, explica o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Por isso, é possível estimar o perigo pelos centímetros da barriga. E, de acordo com a SBC, pode-se também obter outro índice dividindo-se a medida da cintura pela do quadril. No caso dos homens, o resultado deve ser menor que 0,93 para ser considerado normal. Acima disso, há risco para doenças cardíacas. No das mulheres, 0,83.

Também ganhou realce um fator de risco que já assustava: o 
tabagismo. Desta vez, os americanos chamaram mais a atenção para o fumante passivo. Se antes a orientação era cortar o cigarro, agora foi determinado que é preciso não se expor à fumaça. Já se sabe que fumar eleva a chance de infarto. O cigarro contém substâncias que levam à formação de coágulos nas artérias, dificultando a passagem de 
sangue e de oxigênio para o músculo cardíaco. O produto também 
possui compostos que aumentam a adesão das plaquetas (células do sangue responsáveis pela coagulação), fenômeno que igualmente prejudica o coração.

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