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     O jogo em que a Seleção Brasileira derrotou o Catar (2x0) seria uma boa oportunidade para lotar o estádio Mané Garrincha, quarta-feira, em Brasília. A arena recebe bom público apenas em jogos de grandes times do Campeonato Brasileiro. Fora isso, fica ocioso, consumindo R$ 700 mil mensais a título de “conservação”.

     Mas, agora, nem a Seleção Brasileira motiva o torcedor lotar a arena que teve custo final de R$ 1,8 bilhão. Apesar da presença de Neymar, agora como estrela sexy, apenas 34 mil torcedores compareceram ao jogo, deixando 30 mil lugares vazios no gigante de concreto. Parece que o torcedor adivinhou que o craque jogaria por escassos 18 minutos, quando saiu com uma lesão no tornozelo...

         Construído para a Copa do Mundo 2014 e anunciado para ser um grande centro de esporte e lazer, o estádio está longe dessa projeção. Sua fama deve-se mais ao desperdício de dinheiro público, numa cidade de futebol inexpressivo e por trambiques que o monumental espaço abrigou.

         No mais recente, há duas semanas, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu o presidente da Federação de Futebol local, Daniel Vasconcelos, o ex-jogador Roni e outras cinco pessoas acusadas de envolvimento num esquema de fraude de borderôs financeiros.

         Fora do guichê da bilheteria, o Mané Garrincha já envolveu outros espertos da política local.

         O ex-governador José Roberto Arruda (2007 – 2011), em cujo mandato começaram as obras do Mané Garrincha, recorre em liberdade à condenação a sete anos de prisão, por envolvimento no esquema “Caixa de Pandora”. Em outro processo, ele é acusado pelo Ministério Público Federal de superfaturar serviços para exigir propina das construtoras do estádio.

         Na sequência, o ex-ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, tornou-se governador do DF (2011-2014) e também foi envolvido no mesmo processo de Arruda, com outros dez suspeitos, após investigações da Polícia Federal. A acusação do Ministério Público é de fraude em licitação, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

         Com grande número de torcedores em Brasília, o Flamengo é clube que mais atrai público ao Mané Garrincha. No ano passado, 60 mil pessoas foram ao Fla-Flu em que o rubro negro venceu por 2 x 0. Corinthians e Palmeiras também atraem torcedores, mas nada que passe dos 50% da capacidade do estádio.

         Fora isso, o estádio serve para os jogos do Campeonato Candango. Em fevereiro deste ano, o jogo Real x Santa Maria motivou a ida de irrisórios 60 torcedores, que ficaram sufocados na imensidão de 73.940 mil cadeiras vazias...

         Enfim, há cinco anos comprova-se o discurso mentiroso dos governadores da época e a ganância com que despejaram concreto numa obra que, estava claro, se tornaria inexpressiva. Expressiva, quem sabe,  para os suspeitos objetivo políticos de então, como demonstra a justiça.

         Agora, anunciam que o Consórcio Boulevard Show de Bola assumirá a gestão do estádio e do Centro Esportivo. Oxalá não seja mais um escândalo anunciado.

         Enfim, o saudoso craque Mané Garrincha não merecia essa homenagem em que o seu nome é citado em meio a grossa corrupção.

Mas, são coisa$ do futebol.