Manifestações Políticas de Atletas no Palco dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020: Cidadania Vs Mitologização
Por Doiara Silva dos Santos (Autor), Clarisse Silva Caetano (Autor).
Parte de Anais do Fórum de Estudos Olímpicos 2021 e III Simpósio Latino-americano Pierre de Coubertin . páginas 85
Resumo
O Comitê Olímpico Internacional, por muitos anos, divulgou e reforçou restrições previstas na Carta Olímpica quanto a falas, gestos e manifestações políticas de atletas durante protocolos e cerimônias dos Jogos, sob pena de sanções. Este estudo buscou identificar e analisar manifestações políticas de atletas durante provas, protocolos, cerimônias e entrevistas imediatamente após suas disputas nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Para tanto, foram catalogadas notícias de mídias digitais esportivas brasileiras, de 23 de julho a 8 de agosto. Oito manifestações políticas de atletas “in lócus” foram classificadas para a análise conforme as suas formas de expressão: 1. Indumentária esportiva – em que ginastas do Azerbaijão utilizaram uniformes em preto, sem brilho, na Ginástica Rítmica Desportiva, em protesto sobre conflitos no país; e as ginastas alemãs, utilizando uniformes que cobriam todo o corpo, contra a erotização do corpo feminino no esporte; 2. Pintura corporal – atleta brasileiro do Atletismo pintou as unhas em apoio à campanha Polished Man, que arrecada fundos para a luta contra a violência infantil; 3. Gestos – como Luciana Alvarado, atleta da Ginastica Artística da Costa Rica, que ajoelhou ao fim da sua apresentação de solo com um dos braços estendido e punho fechado, gesto utilizado em protestos contra o racismo; Raven Saunders, atleta do arremesso de peso dos Estados Unidos, ergueu os braços e cruzou os antebraços acima da cabeça na cerimônia de premiação, alegando representar todas as pessoas oprimidas; 4 – Falas: como Nestthy Petecio, que dedicou sua medalha à comunidade LBTQIA+; e Thomas Daley, atleta dos saltos ornamentais britânico, que se afirmou orgulhoso por ser gay e campeão olímpico. As manifestações nos Jogos Olímpicos de Tóquio fomentam importantes reflexões sobre o atleta como sujeito social, para questionarmos, por exemplo, as instituições, a formação esportiva e o lugar que estas ocupam na identidade do atleta em sua formação cidadã. A tentativa de silenciar atletas na ocasião do evento (seu maior palco de visibilidade), parecem manter o atleta e o evento dentro de certa mitologização, distanciando-os, no imaginário social, de questões para além do campo esportivo.