Editora None. Brasil 2019. 177 páginas.

Sobre

O voleibol faz parte de minha vida desde os 13 anos, quando aprendi os primeiros fundamentos. De lá para cá fui atleta, torcedor, árbitro, auxiliar técnico, professor universitário, assistente, técnico, comentarista e coordenador. Convivi com alguns dos melhores atletas que o mundo já viu jogar e participei de conquistas memoráveis.
Fui treinador de categorias menores no início de carreira e dirigi duas das melhores equipes do país. Fui auxiliar técnico da seleção brasileira masculina que conquistou o ouro em Barcelona, em 1992, e estive em Atenas, em 2004, como assistente-técnico da equipe feminina, que perdeu aquela semifinal fatídica para a Rússia. Conquistei vários títulos internacionais, continentais, nacionais e estaduais como assistente; como técnico, venci menos do que gostaria ou poderia, mas mesmo assim colecionei importantes vitórias. Lecionei numa das mais conceituadas universidades da América Latina. Escrevi obras didático-pedagógicas. Sou jornalista e comentarista de voleibol.
Ao elaborar este livro procurei escapar do mero relato biográfico e do apelo da auto-ajuda. Consciente de minha condição de coadjuvante na história de ouro que o vôlei brasileiro escreveu nos últimos anos, baseei-me em minha vida dentro do esporte para relatar fatos que levarão o leitor a conhecer o voleibol por outro prisma.
Nos quase 30 anos aqui relatados, vivi a paixão da entrega e a desilusão com o sistema. E é exatamente essa alternância de amor e ódio, satisfação e desengano que procuro apresentar. Não quero, de forma alguma, simplificar a história numa lógica maniqueísta em que o amadorismo é bom e o profissionalismo perverso, desejo apenas que o leitor afira a diferença enquanto acompanha os momentos em desfile.
Todavia, há um abismo inquestionável entre uma fase e outra: a quase poesia do idealismo e a escatológica briga pela sobrevivência num cenário restrito a poucos escolhidos são separadas pelo capital e pela ambição que recrudesce nos profissionais que chegam aos degraus mais altos da carreira.
Não pretendo me colocar, como às vezes pode parecer, como baluarte da moral, longe disso, pois me confesso várias vezes flexível o suficiente para quebrar minha suposta integridade. Não gostaria também que o transparecimento de mágoa fosse entendido como um vulgar desabafo, mas como um aceno contra o sistema, a ausência da ética, o desvirtuamento do próprio esporte e a canalhice para garantir a sobrevida, o poder ou o status.
Enfim, quero que minha vivência não se perca, trancada num porão escuro e sem acesso, na inutilidade da memória cada vez mais fugidia.