Resumo
O estudo da locomoção humana é um assunto extensamente explorado, mas devido à sua complexidade, muito permanece inexplicado. É uma tendência na comunidade científica o estudo biomecânico de gestos motores e o estabelecimento das forças relacionadas com a sobrecarga do aparelho locomotor. Nesse contexto, pouco tem sido estudado sobre a marcha militar, que tem sido comumente considerada uma atividade patogênica. Portanto, com base na ausência de estudos quantitativos sobre a marcha militar e a crescente atenção ofertada ao estudo das forças de impacto na locomoção, este estudo teve o objetivo de descrever, comparar e analisar a componente vertical da força de reação do solo (FRS) bem como a atividade eletromiográfica (EMG) de músculos selecionados do membro inferior na marcha militar e na marcha normal. Materiais e Método. Sujeitos. Dez militares da Força Aérea Brasileira (18,5±0,5 anos, 72,7±4,2 kg e 177,5±6,5 cm) sem quaisquer lesões do sistema locomotor. Instrumentos. Sistema Gaitway (Kistler 9810S1x) de plataformas de força em esteira rolante e EMG 1000 (Lynx®) para a coleta sincronizada de FRS e EMG. Procedimentos. Os sujeitos foram submetidos a um período de ambientação em esteira, caminhando a 5 km/h por 10 min. Foi utilizado o protocolo da SENIAM para posicionamento dos eletrodos de superfície nos ventres dos músculos tibial anterior (TA), gastrocnêmio lateral (GL), vasto medial (VM) e bíceps femoral (BF). Foram coletadas duas amostras de 20 s de FRS e EMG em duas condições: (1) caminhando (marcha normal) a 5 km/h, e (2) marchando (marcha militar) a 100 cpm e 4,5 km/h. Parâmetros. Foram analisados os picos de FRS vertical e suas derivadas e o valor RMS da EMG em quatro instantes diferentes da fase de apoio. Tratamento de Dados e Estatística. Os dados foram sincronizados e cortados por apoio. Foi feita a retirada de offset, a retificação e a filtragem. Foram calculados médias e desvios-padrão de todos os apoios dos dez sujeitos. Foram utilizados a análise de variância (ANOVA) de dois e três fatores, testes de correlação linear e o modelo de regressão linear múltipla para comparação dos dados. O nível de significância foi estabelecido em <5%. Resultados. Os valores da magnitude dos picos de FRS vertical, bem como o Impulso, foram maiores na marcha militar (p<0,0001). A atividade muscular foi maior na marcha normal para todos os músculos selecionados (p<0,0001). Também foi maior na fase de propulsão (p<0,0001) e para o músculo BF (p<0,0001). Houve correlação linear negativa entre a magnitude da força transiente Ft e a atividade de todos os músculos analisados (p<0,05). Conclusões. A magnitude bem como a forma de onda da FRS vertical difere entre a marcha normal e a marcha militar. A atividade muscular também difere, sendo menor na marcha militar. Existe relação entre a incidência de maiores valores de força de impacto e menores valores de atividade muscular na marcha militar.