Resumo

A obesidade é considerada atualmente como uma doença com proporções epidêmicas. O excesso de peso está relacionado com a falta de atividade física suficiente e tem sido diagnosticado, de forma crescente, desde a infância. Diversos fatores de risco estão ligados à obesidade, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias entre outros. A caminhada apresenta associação com a diminuição desses fatores de risco, além da melhora na saúde ortopédica e metabólica, principalmente em crianças e adolescentes obesos. Embora existam evidências sobre a marcha de adultos e adolescentes obesos, informações sobre a mecânica da marcha de crianças obesas são limitadas. Especificamente, um quadro detalhado dos determinantes mecânicos relacionados à energética da marcha de crianças obesas, para nosso conhecimento, é ausente na literatura. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos da obesidade nos parâmetros biomecânicos e metabólicos de crianças, durante a caminhada em diferentes velocidades. Para isso, participaram do estudo 24 crianças, entre sete e nove anos de idade, divididos em dois grupos (grupo de obesos (GO), com n=12 e grupo eutrófico (GE), com n=12), pareados por sexo. Foi realizada uma coleta cinemática (para determinar os componentes espaço-temporais e os componentes do trabalho mecânico) em conjunto com uma coleta metabólica (para determinar o custo energético da caminhada). Foi utilizada estatística descritiva, com médias e desvios padrão, além de análise de variância (ANOVA) de dois caminhos (para verificar os efeitos do grupo e das velocidades de caminhada) e foi utilizado o teste post-hoc de Bonferroni para localizar as diferenças. O nível de significância adotado foi α = 0,05. Os resultados demonstraram que há efeito da obesidade sobre a mecânica e a energética da caminhada de crianças. Crianças obesas utilizam uma estratégia locomotora em que há maior tempo de contato com o solo (em média 14% maior) durante a passada e maior comprimento de passada (em média 9% maior), o que pode estar relacionado com a manutenção da estabilidade entre os grupos. Na análise do trabalho mecânico total (J.kg-1.m-1), não foram identificadas diferenças significativas em nenhuma velocidade, apesar de as crianças obesas apresentarem maior trabalho interno nas maiores velocidades (4km.h-1 no GO foi 0,30 ± 0,04 e no GE foi 0,24 ± 0,04, p=0,022; 5km.h no GO foi 0,42 ± 0,09 e no GE foi 0,33 ± 0,03, p=0,041). A análise dos componentes metabólicos demonstrou importante influência da normalização dos dados, uma vez que, com a normalização pela massa corporal total e com o coeficiente alométrico, o grupo eutrófico apresentou maiores valores na maioria das velocidades, contudo sem a normalização (valores brutos) o custo metabólico foi maior para o grupo obeso em todas as velocidades. Conclui-se que a estratégia locomotora do grupo obeso foi eficiente em aumentar a estabilidade da caminhada, diminuir as diferenças esperadas quanto à realização de trabalho mecânico em relação ao grupo eutrófico, sendo mais econômicas na análise de quantidade de energia consumida por unidade de massa corporal e por unidade de metro percorrido, contudo menos econômicas na análise da quantidade de energia bruta consumida por tempo.

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