Medicina, ginástica e “saúde da mulher” no Rio de Janeiro do século XIX
Por Fabio Peres (Autor), Victor Andrade de Melo (Autor).
Resumo
Nos últimos posts, contamos um pouco sobre como se construiu a relação entre ginástica, educação e medicina no decorrer do século XIX. Embora desde a década de 1840, médicos ligados à Academia Imperial de Medicina defendessem a introdução dessa prática nas escolas - expressão de como a medicina procurava, literal e simbolicamente, ganhar corpo no cotidiano escolar -, na década de 1870 ainda eram identificados diversos desafios para a sua implementação nas escolas.
No decorrer dessa enredada história, merece destaque a publicação de um artigo, em 1878, redigido pelo médico José Pereira Rego Filho[ii], no qual apresentava uma síntese do parecer de Rego Cesar sobre a ginástica sueca, lido na Academia Imperial de Medicina em 29 de março 1876, conforme mencionado no post anterior. O médico, todavia, não se limitou apenas a fazer um resumo das ideias de Rego Cesar. Apresentou, além disso, o “estado da arte” sobre o tema, de maneira a mapear a produção hodierna da época, como Alexis Sluys, Braun, Browerse Docx, Jaeger, Gallard, Schmitz, Fonssagrives, entre outros, destacando que:
Acreditamos suficientes as reflexões expostas para demonstrar as vantagens da ginastica, que sem contestação, deve figurar como base de toda a educação coletiva e privada [...] parece ser hoje incontestável [...] que o trabalho muscular regularizado é um excelente meio de tratamento em muitas moléstias. Não só pode-se desenvolver as forças, combater a anemia ou a diabetes e diminuir a obesidade, mas ainda chega-se a regularizar as funções digestivas, a desenvolver o apetite, e mesmo a imprimir maior atividade à circulação geral. (1878, p. 347-348).