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Observo com atenção como a coragem é um tema contemporâneo. Nizan Guanaes falou essa semana que a coragem é produtiva e capaz de criar o que de fato mais funciona. Maria Bethânia declarou, na reportagem que anuncia o novo show, que a vida exige coragem sempre e que é esse o estado de humor necessário para se chegar a uma situação que traga alegria.

Ouvir Bethânia, torcer por Arthur Zanetti nas argolas ou assistir ao time feminino de handebol nos Jogos Pan-americanos tem o poder de fazer suspirar. E sem perceber instala-se no canto da boca um sorriso maroto que ilumina semblantes carregados do peso desses árduos tempos. E isso se dá porque ali, no som e no gesto, se encontra a coragem impulsionadora da vida, que insiste em seguir apesar de tudo.

E a atitude corajosa não está apenas nos grandiosos gestos heroicos. Ela pode ser descoberta na capacidade diária que nos faz saltar da cama para mais um dia de realizações e enfrentamentos. E assim encaramos todas as mazelas cotidianas que vão do limite da força física à superação das injustiças. De fato, viver depende de coragem.

O medo, e seu superlativo o terror, rondam por toda a parte. Fora de controle, ou sob o controle de quem tem a intenção de te fazer sofrer, ele é potencializado. E, aí entra a coragem que está sempre acompanhada da esperança. Ela é a força necessária para enfrentar todos os males que Pandora deixou escapar ao abrir a caixa presenteada por Zeus. Mesmo avisada que não devia abrir, ousou, abriu.

Ou seja, a coragem não é a ausência do medo, mas a disposição para enfrentá-lo.

De todos os atletas olímpicos que já conheci e tive a oportunidade de compartilhar suas histórias não identifiquei aquele que tivesse passado por situações de extrema exigência sem experimentar o coração na boca diante do desafio da competição ou do desconhecido de uma nova situação. O ato heroico não reside na vitória pura e simples, mas na capacidade de enfrentar tudo aquilo que parece maior e mais poderoso que nós mesmos.

Vejo no esporte como a capacidade de enfrentamento é o que diferencia os atletas. No momento da competição todos tremem. Mas, há os que além de atletas são também atores e dominam a arte de dissimular os próprios sentimentos diante dos adversários. Regulam a ansiedade, que caminha junto com o medo, e são até capazes de fazer o coração bater mais devagar tendo assim o melhor controle da situação. Essa conquista depende de treino tanto quanto a resistência física ou o conhecimento técnico de uma modalidade esportiva.

Mas, isso apenas não é suficiente.

O jogo bem jogado ou a competição inspiradora são aqueles momentos nos quais o atleta mostra, com sua habilidade acima da média, a beleza impulsionada pela coragem de ousar. A ousadia por si só é uma expressão da coragem por levar o atleta, o pesquisador, o professor, cada um em seu campo específico, a buscar o novo, o desconhecido, aquilo que fará toda a diferença na experiência fantástica de ser humano. Um salto mortal, um arremesso, um passe ou um ataque dependem dessa capacidade: ousar, ter a coragem de enfrentar o medo, e realizar.

Conhecedor das coisas humanas Guimarães Rosa escreveu que viver é muito perigoso; e não é não. “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.