Resumo

O presente trabalho tem o propósito de apresentar parte de uma pesquisa de doutorado em Ciências Sociais, a qual tem como norte o intento de compreender a construção e a negociação de identidades de torcedores/as do Riograndense Futebol Clube, instituição fundada em 1912 na cidade de Santa Maria-RS. Este clube tem origem ferroviária e participou por diversas vezes de campeonatos oficiais, tendo se sagrado campeão do interior, bem como vice campeão gaúcho em 1921. No entanto, desde 2017 não atua como time profissional de futebol, mantendo somente atividades nas categorias de base. Sendo assim, partindo de um esforço metodológico que coloca em relevo o “encontro etnográfico” (CRAPANZANO, 1980) e as narrativas sobre si características da etnobiografia (GONÇALVES, 2012), esta proposta de trabalho apresenta uma reflexão acerca da produção de identidades de um grupo de torcedores/as organizados do Riograndense, membros da T.O.R (Torcida Organizada do Riograndense), fundada em 2012, ano do centenário do clube. No primeiro semestre de 2022, foram realizadas entrevistas etnográficas (GUBER, 2001) e encontros etnográficos que erigiram narrativas biográficas demonstrativas de, principalmente, construções identitárias concernentes com o bairro Perpétuo Socorro, local da sede do clube, e a família, esta vinculada ao trabalho ferroviário e seus coletivos. Enquanto dados preliminares, pode-se dizer que as identidades dos torcedores/as, nas narrações orais e nas práticas de lazer oriundas do ato de torcer, reforçam constantemente os laços familiares e a comunidade (bairro) enquanto alicerces do clube e da torcida. As memórias de vinculação territorial e familiar sobrepujam, assim, as memórias dos jogos, dos ídolos e dos títulos. Além disso, no que concerne às significações de lazer, este trabalho interessa-se não em concebê-lo perante o mundo do trabalho e o tempo de trabalho, mas em compreender as relações que se estabelecem entre práticas de lazer, modos de vida e vida ordinária (MAGNANI, 2018). Desta feita, essa torcida organizada evoca identificações que se mantém demasiadamente por meio de memórias, assim como outros/as interlocutores/as da pesquisa, mais velhos/as. Identidades ferroviárias, operárias e periféricas se aglutinam e roteirizam as práticas de lazer da torcida, que ocorrem no estádio e fora dele, em encontros casuais ou em jogos das categorias de base.

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