Resumo

Conduzidos pelo curta-metragem “M is for man, musicand Mozart” (1991), do cineasta Peter Greenaway, assistimos o anfiteatro anatômico como cenografia da gênesis e do mito de criação do homem, cujas memórias são cantadas, dançadas (sacralizadas e profanadas) por deuses ambientados num cosmologia renascentista. Seguindo referências da iconografia maneirista de Bosh e Arcimboldo, bem como a escultura de Cellini, as razões visuais de Da Vinci, Michelângelo e as pranchas anatômicas de Vesalius, o filme é montado a partir de uma música em três atos - prelúdio, Man, Music e Mozart -, nos quais espectadores, deuses, matérias, palavras e paixões estão implicados num processo caótico e grotesco de criação de um corpo idealizado, cuja animação dar-se-á em razão de uma música e dança apolíneas. Neste estudo, trataremos das memórias do corpo na filmografia de Greenaway e, tencionando as suas possíveis leituras anatômicas, discutiremos como ideias-imagens de nudez, comida, excesso, seriação, corpo-texto e enciclopédia apontam para uma estética de representação não narrativa que propõe uma outra genealogia do corpo no cinema.

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