Resumo

O propósito deste estudo foi analisar, a partir das abordagens metodológicas, as implicações epistemológicas das dissertações produzidas nos Mestrados em Educação Física no Brasil. Mais especificamente, aquelas defendidas até o ano de 1987, nos Mestrados da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Procuramos analisar a produção científica desses Programas, visualizando-a na inter-relação com os determinantes históricos, econômicos, políticos e sociais. Nessa linha de raciocínio, buscamos, por um lado, explicitar as condições históricas que determinaram a criação dos mestrados em Educação Física no Brasil e verificar como se situaram no processo de expansão em nível nacional dos Cursos de Pós-graduação, desencadeado após 1964. Procuramos, ainda, destacar algumas características específicas do processo de estruturação desses Programas (formação do corpo docente, objetivos do cursos, entre outras). Na análise desses aspectos, destacamos que o Modelo de Pós-graduação em nível de Mestrado em Educação Física implantado no Brasil, assim como ocorreu em outras áreas do conhecimento, seguiu o modelo da Pós-graduação americana, regulamentado e expandido no Brasil via Reforma Universitária, segundo os interesses econômico-político-governamentais. Na análise desses determinantes contextuais, buscamos essencialmente ressaltar como o panorama econômico-político-social de um dado período histórico é de fundamental importância para a determinação das tendências apontadas pela produção científica. Desse modo, torna-se indispensável para seu estudo, a explicitação desses condicionantes históricos. Por outro lado, este estudo sobre a epistemologia das pesquisas dos Mestrados em Educação Física procurou recuperar a estrutura interna das dissertações explicitando, a partir da abordagem metodológica utilizada, os elementos referentes aos níveis técnico, teórico, metodológico e epistemológico, bem como os pressupostos gnosiológicos e ontológicos contidos nas mesmas, identificando assim suas características e tendências. Verificamos, nessa análise das dissertações, a utilização de um único tipo de abordagem metodológica: a empírico-analítica. Constatamos que, apesar de algumas variações, pressupostos epistemológicos comuns são apresentados nos critérios de cientificidade que fundamentam as pesquisas, nas formas como se relacionam o sujeito e o objeto no processo de investigação, nas noções de causalidade, de ciência, bem como nas concepções de Homem, História, Educação, Educação Física/Esportes e Movimento, que as orientam. Observamos que o entedimento dominante de ciência nas pesquisas analisadas está atrelado aos princípios da quantificação e matematização dos fenômenos; da análise e descrição dos mesmos segundo parâmetros estatísticos; da descontextualização e isolamento dos fenômenos ou fatos para sua "experimentação" ou observação mais "objetiva"; da "imparcialidade" e "neutralidade" do pesquisador, entre outras características que apontam para uma visão de ciência voltada para a vertente positivista. Considerando as características indicadas pelas dissertações analisadas, o unidirecionamento apresentado quanto ao processo de produção de pesquisa e do próprio entendimento de ciência e levando em conta as possibilidades concretas de mudanças na estrutura e nas formas de relações internas dos Programas de Pós-graduação, bem como o próprio compromisso social que os mesmos desempenham no que se refere ao avanço qualitativo do conhecimento produzido na área da Educação Física/Esportes, sugerimos que sejam ampliadas e diversificadas as vias para a formação do pesquisador no tocante aos assuntos relacionados aos fundamentos teóricos, filosóficos e epistemológicos da pesquisa científica. Isso com o intuito de fornecer elementos para que a investigação científica em Educação Física e a própria forma de conceber a ciência nessa área sejam visualizadas de um modo mais amplo, nas suas dimensões e relações históricas, econômico-político-sociais.

Acessar Arquivo