Resumo
A respiração, em especial a fase da ventilação, é um ato dinâmico dependente da ação coordenada dos músculos respiratórios e da movimentação das estruturas osteo-articulares da caixa torácica. O presente trabalho objetiva propor e avaliar uma metodologia baseada em videogrametria para a análise experimental quantitativa da movimentação da caixa torácica durante a respiração bem como variáveis descritoras da movimentação da mesma. Para tanto, foi utilizado um sistema de análise cinemática tridimensional de movimentos (Dvideow) para obter a descrição das trajetórias espaciais de 38 marcadores fixados sobre referências anatômicas na caixa torácica de 14 sujeitos saudáveis. A partir das coordenadas tridimensionais dos marcadores as seguintes variáveis experimentais puderam ser obtidas: a) descrição das trajetórias espaciais dos marcadores de superfície a partir de um sistema para análise cinemática de movimentos; b) variação das distâncias ântero-posteriores (DAP) e transversais (DT) da caixa torácica, obtida através do cálculo das distâncias lineares entre os marcadores; c) evolução temporal de quatro ângulos articulares obtidos entre as costelas e diferentes sistemas de coordenadas, representando a movimentação das costelas, e análise da correlação destas variáveis; d) comportamento dos espaços intercostais, obtido através do cálculo das distâncias entre os marcadores adjacentes. A avaliação da metodologia proposta foi feita a partir dos seguintes testes: a) análise da acurácia do sistema de análise cinemática nas condições de aplicação da metodologia; b) análise da sensibilidade das variáveis experimentais aos erros do sistema de medida; c) análise da variabilidade intra-examinador dos resultados devido ao reposicionamento dos marcadores em dias diferentes. Os resultados referentes à metodologia mostraram uma acurácia de 2,4 mm, gerando erros máximos de 2 graus nas variáveis angulares. Os valores médios da DAP e da DT encontrados foram compatíveis com a literatura estudada. A variação relativa da DT e da DAP foi significativamente maior (p<0,05) durante a respiração em capacidade vital (CV) que em volume corrente (VC). As costelas 3 a 5 apresentaram variação da DAP significativamente menor que as costelas 9 e 10. Os ângulos a (movimento do par de costelas no plano quasi-sagital) e q (angulação da costela direita em relação à esquerda) apresentaram variação coerente com os ciclos respiratórios. A variação do ângulo a foi significativamente maior nas costelas 1, 2, 3, 5 e 6 em relação às costelas 9 e 10 durante respiração em CV. Os resultados da correlação entre os movimentos das costelas permitiram identificar dois padrões distintos: todas as costelas movimentando-se em concordância de fase (padrão 1), onde enquadraram-se 8 sujeitos, e costelas movimentando-se em oposição de fase (padrão 2), onde enquadraram-se 6 sujeitos. Em relação às distâncias intercostais, estas foram significativamente maiores nos espaços de 1 a 4, os quais também apresentaram maior variabilidade. De maneira geral, a metodologia e as variáveis apresentadas foram capazes de identificar e descrever a movimentação dos componentes osteo-articulares da caixa torácica durante a respiração, contribuindo para a discussão deste problema na literatura.