Resumo
O deslocamento de pessoas e populações ocorrido em fins do século XX e início deste repercutiu também no esporte, num importante movimento de atletas denominado migração atlética, em busca de seu desenvolvimento esportivo e ultrapassando os limites das fronteiras nacionais. Com a globalização do esporte, também migraram inúmeras atletas brasileiras de handebol feminino, e se constatou a influência desse processo no esporte contemporâneo, o que levou à necessidade de estudar a aculturação relativa a esse fenômeno. Este trabalho é um estudo de caso qualitativo cujo objetivo foi analisar a migração atlética e a aculturação num país culturalmente diverso e suas consequências. Foi escolhida uma atleta de elite do handebol feminino brasileiro que atuou em campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos e teve experiências como migrante atlética internacional, que concedeu uma entrevista individual, aberta e com roteiro semiestruturado como técnica de coleta de informações. Na análise da entrevista foram identificados temas centrais do modelo de transição cultural de Ryba, Stambulova e Ronkainen (2016). Na fase de pretransição, revelou-se, por exemplo, que a atleta não foi preparação para enfrentar a migração atlética internacional. Na fase de adaptação cultural aguda, ficaram evidentes questões relativas ao choque cultural, pautadas em sofrimento e solidão. Por outro lado, a jogadora também mostrou vontade, disposição, entusiasmo e esperança de novas oportunidades. Na fase de adaptação sociocultural, ela claramente se mostrou mais bem ajustada aos novos ambientes e superou algumas das dificuldades experimentadas na fase anterior em relação ao idioma, a preconceito, solidão, saudade e uso da moeda local. Entre os principais pontos que poderiam dificultar o processo de aculturação na migração atlética, foram arroladas questões atinentes a informações sobre o futuro país/clube, o idioma, apoio e discriminação social, distância da família e diferenças culturais, que poder constranger o atleta a situações de isolamento ou dificuldade de estabelecer relações interpessoais.