Resumo

Ao confrontarmos a configuração da cultura corporal e da Educação Física no contexto escolar brasileiro e sergipano com as necessidades educacionais contemporâneas, em meio à globalização neoliberal e às relações de poder inerentes, percebemos a urgência da realização de pesquisas que subsidiem uma pedagogia politicamente engajada com a diversidade cultural e a justiça social. Ao propor ações nessa perspectiva, os Estudos Culturais e o multiculturalismo crítico evidenciam a necessidade de investigar os aspectos didáticos que demarcam a prática pedagógica orientada nessa perspectiva, com intuito de embasar o diálogo com a diversidade cultural no currículo escolar. Em julho de 2010, conhecemos o Projeto Identidade: minha história conto eu, desenvolvido em uma escola da rede pública municipal de Aracaju ao longo daquele ano letivo com uma turma da Educação Infantil, cujas perspectivas formativas eram semelhantes. As práticas educativas desenvolvidas inicialmente pelas professoras-coordenadoras do Projeto não incluíam a tematização da cultura corporal com vistas à constituição identitária democrática, apenas como prática de recreação livre e instrumento para trabalhar habilidades de leitura, escrita e ordenação numérica, por vezes fomentando identidades autoritárias e silenciando as minoritárias. O panorama encontrado e o desejo expresso pelas docentes em ampliar sua formação e potencializar uma ação pedagógica comprometida com a democracia, de modo a incluir os conhecimentos da cultura corporal, implicou a realização desta investigação. O objetivo foi identificar, evidenciar e analisar os aspectos didáticos que demarcam o processo de elaboração e implementação de um currículo multicultural crítico que problematizou a cultura corporal com vistas à constituição de identidades democráticas, ao longo de um semestre letivo. As barreiras epistemológicas impostas, em contraste com a fundamentação dos Estudos Culturais, oportunizaram redimensionar as formas de investigar sobre/com o currículo, observando-o como prática social. Assim, elaboramos a metodologia da pesquisa em (inter)ação ao considerar a diversidade de sujeitos, compreensões e orientações culturais envolvidas num currículo e na investigação e, a partir do que foi constatado, criamos, definimos e materializamos cada passo ou ação. Participaram do estudo as duas professoras-coordenadoras do Projeto Identidade, as 23 crianças da turma investigada e o coordenador geral da instituição. Para coleta de dados, utilizamos entrevistas semiestruturadas, observações com registros em diário de campo e registro de imagens através de fotos e vídeo. A ação envolveu estudo de formação da professora, planejamento e implementação da prática multicultural crítica. Os dados foram analisados mediante os procedimentos da descrição crítica com inferências. Tanto o currículo empreendido, como o processo formativo da docente, foi marcado por ações didáticas de caráter crítico que envolveram mapeamento, tematização, aprofundamento, ampliação, ressignificação e avaliação dos conhecimentos da cultura corporal das crianças, numa pedagogia que se desenvolveu como prática de diálogo aberto e plural em interação com as questões socioculturais que afetam a vida dos sujeitos envolvidos.

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