Mito e atividades de aventura: o cenário atual do surfe brasileiro
Por Marília Martins Bandeira (Autor), Katia Rubio (Autor).
Resumo
A pós-modernidade diversifica as produções culturais e sugere transformações nas dinâmicas das instituições sociais, contudo ainda observa-se na prática do esporte e lazer contemporâneos a manutenção de temas míticos tradicionais nas representações coletivas de nossas sociedades. Mitos são forças desencadeadas pela paixão, representam as tendências mais intensas de um grupo e, personificando o ideal de todo o ser humano são concepções de como o Homem expressa sua relação com o mundo. Admitindo a fundamental importância do discurso mítico no processo de formação da identidade pessoal e grupal, influenciando manifestações sociais e culturais, esse trabalho se propõe a investigar as bases da construção cultural e a motivação para o surfe em âmbito nacional. A prática corporal e esportiva atuais permitem a seus praticantes, de acordo com o grau de desafio de sua atividade, a transposição de obstáculos aparentemente intransponíveis, favorecendo a representação mítica do herói, figura que remete à realização de grandes feitos, prodígios conseguidos através da força, coragem e astúcia. E, em se tratando das atividades de aventura, em específico na natureza, são conferidas ao indivíduo as possibilidades do atrevimento, do inusitado, da vida em sua experiência extremada. O surfe do século XXI confirma a intensidade do aceitar o chamado da aventura, no qual o indivíduo parte do ócio, do tédio, da prisão do trabalho e das rotinas para a afirmação do poder de ação, da ousadia transformadora, do encontrarse na natureza. Assumir estes riscos conduz também ao ser fiel a si mesmo exaurindo-se em sua missão. Por vezes contraditórios e paradoxais, os heróis das atividades de aventura permitem-se fantasias fundadas em suas próprias concepções de valor, mas que por um objetivo consistente do existir para e pela sua causa, remonta o tempo das origens. Para a realização desta pesquisa os métodos utilizados são fundamentados na análise interpretativa de dados etnográficos (observação participativa e registros seqüenciais em caderno de campo, baseados no acompanhamento da rotina de um grupo de praticantes) em consonância com a fundamentação teórica do arquétipo do herói. Este estudo conclui que há relação direta entre os mitos de origem e a configuração do surfe no cenário atual.