Resumo

O objetivo desta dissertação foi descrever a dinâmica da carga interna de treinamento (CIT) e estado de recuperação de atletas profissionais de ginástica rítmica (GR) durante uma temporada, bem como verificar o impacto dessa organização na percepção do estado de estresse-recuperação, perfil hormonal, imunidade da mucosa e desempenho físico. Participaram deste estudo oito ginastas integrantes da seleção brasileira de conjunto de GR em 2015. No decorrer de 43 semanas, foram monitoradas 379 sessões de treinamento e competições da seleção. Diariamente, a CIT foi registrada utilizando-se o método da percepção subjetiva do esforço (PSE) da sessão e o estado de recuperação foi obtido através da escala de Qualidade Total de Recuperação (TQR). As atletas responderam ao Questionário de Estresse e Recuperação para Atletas (RESTQ-Sport) em cinco momentos, realizaram teste de salto com contramovimento (SCM) em quatro momentos e coletaram amostras de saliva em três momentos diferentes da temporada. Foram feitos testes estatísticos de normalidade, esfericidade, além dos testes ANOVA com post hoc de Bonferroni, Friedman, Wilcoxon, Correlação de Pearson e Spearman e Alfa de Cronbach. Para isso, foi utilizado o software SPSS (v. 20.0) e adotado nível de significância de p ≤ 0,05. Os resultados mostraram comportamento ondulatório e variado das cargas de treinamento ao longo das semanas e períodos, com magnitudes muito elevadas, refletindo em um estado de recuperação abaixo do ideal na maior parte da temporada. O estado de estresse-recuperação teve poucas variações no decorrer da temporada, sofrendo maiores alterações após período de folga sem treinamento e nas escalas de lesões, fadiga e queixas somáticas. A concentração salivar de cortisol este abaixo dos valores de referência, mesmo em condições de altas cargas de treinamento; teve aumento significativo no dia com competição; e se correlacionou negativamente com o estado diário de recuperação. Em geral, a testosterona esteve dentro dos valores de referência, não respondeu diretamente às variações das cargas de treinamento e teve aumento significativo no dia de competição. A resposta imune não mostrou comportamento padronizado em função das cargas de treinamento, apresentou grande variabilidade interindividual e relação com o estado de recuperação das atletas. Já o desempenho físico, medido através do salto vertical, não teve variações significativas durante o tempo do estudo e não apresentou relação com as demais variáveis monitoradas. Conclui-se que o modelo de distribuição das cargas de treinamento adotado pela seleção brasileira de conjunto de GR possui dinâmica ondulatória, variada, altas magnitudes, aumento nos períodos competitivos e não oferece condições apropriadas de recuperação, ocasionando, possivelmente, disfunção hormonal e acúmulo excessivo de fadiga nas atletas. Ademais, os instrumentos utilizados neste trabalho se mostraram eficazes no monitoramento longitudinal e multivariado do treinamento de atletas profissionais de GR.

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