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A morte de Cláudio Vaz no dia 29 de junho abalou o esporte maranhense. Aos 85 anos, ele foi mais uma vítima da Covid-19. Alemão, como era conhecido, parte deixando um legado a várias gerações de atletas e profissionais da educação física e dos desportos do estado. Deixa seis filhos: Cláudia Bogéa Vaz, Andréa Bogéa Vaz, Marcelo Vaz, Natcha Vaz, Maria José Penalber Vaz e Luciana Penalber Vaz.

Quem conheceu Cláudio Antônio Vaz dos Santos ‘Alemão’ jamais o esquecerá. Depois de ser destaque como atleta nas décadas de 50 e 60 ele revolucionou o esporte no estado a partir de 1971 como dirigente. Levou seleções rumo aos primeiros Jogos Estudantis Brasileiros (Jebs) em aviões fretados; trouxe atletas e técnicos de fora para melhorar o nível das equipes; organizou escolinhas de diversas modalidades, movimentando o ginásio Costa Rodrigues desde as cinco da manhã até o começo da madrugada. Somou ao longo dos anos um incontável número de amigos. Muitos o consideram um pai pela forma carinhosa de receber todos que o procuravam.
Falar de Cláudio Alemão é fácil. Difícil é resumir em uma página o que ele fez ao longo de sua vida. Nascido em São Luís no dia 24 de dezembro de 1935, fugia das características físicas dos maranhenses. Branco, louro, olhos azuis, mais parecia um alemão. Não foi à toa que ganhou o apelido nos tempos do colégio Marista.
Polivalente - Como atleta de basquete, voleibol, futebol de campo, atletismo e natação do colégio São Luís, participou em 1952 dos Jogos Olímpicos Secundaristas idealizados pelo jornalista Mário Frias. O fascínio pela competição entranhou em suas veias. 
Com senso de organização e liderança terminou se envolvendo na criação do time de basquete Os Milionários. Integrou a seleção juvenil que foi a Fortaleza disputar um campeonato sob a direção do técnico Antônio Bento Cantanhede Faria.
O gosto pelos esportes levou Alemão a competir bem em todas as modalidades que praticava. O grupo que jogava ao lado dele era praticamente o mesmo ao longo das décadas de 50 e 60: Gedeão Matos, os irmãos Mauro e Miguel Fecury, Aziz Tajra, Raimundinho Sá, Poé, Denizar Almeida, César Bragança, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Cleon Furtado, Jaime Santana, irmãos Zé Reinaldo e Silvinho Tavares, Wilson Bello, Sá Vale, Joaquim Itapary, Henrique Moreira Lima, Márcio Viana Pereira... “Éramos unidos pelo esporte, a melhor forma de se passar o tempo livre”, ensinava ele em 1999, quando foi feita essa entrevista.
Aviação - Com 21 anos de idade Alemão foi para o Rio de Janeiro participar do curso de piloto comercial. Não pode exercer a profissão por problemas de audição. Voltou para São Luís em 1959 para trabalhar como oficial de gabinete do governador Matos Carvalho, seu padrinho. A vida pública não o afastou das quadras. Com a extinção do Milionários os amigos fundaram o Cometas (disputando basquete e vôlei).
Futebol de Salão - Em 1960 já estava no futebol de salão. Jogou nas equipes Athenas, Drible e Santelmo. Era um reserva que podiam contar.
Depois disso ousou ser dirigente amador. E conseguiu alcançar esse patamar quando foi tesoureiro do Instituto de Previdência do Estado - IPEM. Fundou em 1962 o Cometas, um timaço, contando com o apoio do governador Newton Bello. Teve como seu auxiliar na tesouraria do IPEM nada menos que um dos maiores jogadores da modalidade: Biné. E juntamente com Biné foi possível reunir outros grandes jogadores como Dunga (gol), os irmãos Elias e Nonato Cassas, Poé e Canhotinho. Até 1965 eles foram quatro vezes vice-campeões atrás do Drible.
Judô - Em 1964 Alemão sofreu um acidente grave. Um ano depois, já na ativa, se envolveu em uma briga séria e teve que se refugiar no Rio de Janeiro. Por volta de 1968/69, com seus 33 anos de idade, já estava em São Luís, agora praticando o judô - modalidade trazida por Paulo Leite.
Dirigente - No final da década de 1960, Alemão se formava em economia. Em 1971 iniciava sua brilhante carreira de dirigente esportivo, após ser nomeado Coordenador do Departamento de Educação Física e Desportos da Secretaria de Educação Física do Estado e presidente do Conselho Regional de Desporto. Sua primeira providência foi colocar em funcionamento as escolinhas desportivas, sonhando com um futuro melhor para o esporte maranhense. Além dos tradicionais futebol de campo, futebol de salão, vôlei, basquete e judô, introduziu boxe, capoeira, karatê, xadrez, ginástica olímpica e folclore para a garotada da capital. Os treinos começavam às 5 da manhã e iam pela madrugada do dia seguinte.
Os primeiros Jeb’s – O Coordenador Cláudio Vaz resolveu editar nesse mesmo ano (1971) o Festival Esportivo da Juventude - FEJ -, para atletas escolares. A abertura de gala aconteceu no estádio Nhosinho Santos. Por falta de profissionais específicos, ele e os assessores foram apitar as partidas.
O conhecimento da existência dos Jogos Estudantis Brasileiros se deu através do professor Dimas, que depois do Campeonato Brasileiro de Basquete passou em Belo Horizonte/MG para acompanhar o desconhecido evento. Através do amigo maranhense Ary Façanha de Sá, um dos organizadores dos JEBs, Dimas soube que o Maranhão também poderia participar. Após saber da novidade, Cláudio Vaz seguiu para Brasília e na volta anunciou a participação das seleções do Maranhão na competição. Foram convocados atletas de vôlei (masculino e feminino), basquete masculino, handebol (masculino e feminino) e folclore.
Cláudio Vaz não trabalhava com verbas públicas. Mas os amigos nos postos certos davam o respaldo necessário para a concretização dos planos dele. Em julho de 1972 partia de avião para Maceió/AL a primeira delegação maranhense, com 52 pessoas, para disputar os Jebs. As equipes não conseguiram grandes feitos. O maior orgulho do dirigente foi voltar com o artilheiro nacional do Handebol, Luis Fernando Figueiredo, e o vice-cestinha no basquete, Hermílio Nina.
Os Jem’s – Ainda em 1972, Cláudio Alemão conseguiu verba para a construção do ginásio Guioberto Alves. Em 1973 as seleções maranhenses voltaram aos Jebs em Brasília/DF com 250 pessoas. Um boing teve que ser fretado para levar atletas de vôlei, basquete, handebol, atletismo, natação, judô, ginástica olímpica, xadrez, polo aquático e folclore.
Cláudio Vaz sentiu que o nível técnico estava longe dos grandes centros e começou a trazer profissionais para qualificar os técnicos do estado. Trouxe de São Paulo os professores de educação física Laércio Elias Pereira, Domingos Salgado e o atleta Edivaldo Pereira Biguá.
Com o grupo que já trabalhava na Coordenação editou os primeiros Jogos Estudantis Maranhenses (Jems). E preparou a primeira equipe de handebol masculino a participar do Campeonato Brasileiro Juvenil em Niterói/RJ reforçada por atletas paulistas. O grupo ficou em terceiro lugar.
Depois dessa experiência ele investiu pesado em outras modalidades tornando possível a participação de várias seleções em Brasileiros nas categorias juvenil e adulto.
Cláudio Vaz continuou no posto de Coordenador de Educação Física e Esporte do estado até 1978. Foi para Brasília em 1979 e assumiu a direção administrativa da Unidade Esportiva do Distrito Federal. Em 1980 voltava para assumir a Fundação Municipal de Esportes (Fumesp). Novamente resolveu trazer novos professores de São Paulo para incrementar o trabalho. Marcão e Lino Castellani coordenaram o projeto de escolinhas de futebol de campo dirigidas por ex-jogadores profissionais. “Jamais havia sido feito algo semelhante no estado”, vangloriava-se ele.
As atividades não pararam por aí. Administrava o estádio Nhosinho Santos e organizava competições diferentes: ski aquático, barco à vela e a Travessia Felipe Camarão de Natação, com largada na beira-mar e chegada na Ponta D’Areia. Mas como tudo que é bom dura pouco, em 1982 a Fumesp foi extinta.
Cláudio ainda chegou a ocupar cargos públicos de Coordenador de Desportos e Assessor na antiga Secretaria de Desportos e Lazer e na Gerência de Desportos e Lazer (Gedel) - administrações de Phil Camarão, Marly Abdalla e Luis Godinho. Assessorou também Paulo Marinho, quando esse foi prefeito de Caxias.
O empreendedor Cláudio Vaz fez muito mais. Acima de tudo sonhou com um futuro brilhante para o esporte de sua terra. Trabalhou para tornar esse sonho realidade. Muito conseguiu, perpetuando seu nome na história da educação física e dos desportos. Jamais será esquecido pelos maranhenses e pelos profissionais que trouxe para cá no intuito de transformar o Maranhão em uma potência, igual aos grandes centros do país.
Em 1999, quando da realização desta entrevista, os amigos J. Alves (já falecido), Laércio Elias Pereira, Hermílio Nina e Fernando Sarney, deram os seguintes depoimentos sobre Cláudio Vaz Alemão:
 

Não conheçi ninguém mais apaixonado por esporte do que Cláudio. Lembro-me dele praticando judô e se metendo a jogar basquete. Era uma figura! Como dirigente foi excepcional e arrojado. Tirou muitos garotos e garotas das ruas e trouxe para os campos, quadras, piscinas, pistas e tabuleiros. Usava bem as amizades que possui até hoje. Era um adorável maluco que jamais será esquecido.

José Faustino dos Santos Alves ‘J. Alves’
Jornalista e desportista
 

Nunca conseguiremos pagar dívidas de gratidão. Ainda bem que aparecem oportunidades como essa, em que podemos registrar toda a nossa admiração, respeito e amizade a um pioneiro do esporte e da educação física do Maranhão. Um visionário, companheiro dos sonhadores de todas as horas. O Maranhão e todos nós da educação física devemos muito ao Cláudio Vaz.

 Laércio Elias Pereira
Dr. em Educação Física. Criador do site cev.org.br
 

Cláudio continua sendo uma referência no esporte maranhense. Sonhador, empreendedor e alucinado por esporte, sempre teve muitos amigos nos governos municipal e estadual. Tudo o que queria é que eles se voltassem para o esporte. Foi pioneiro na criação de escolinhas e idealizou os JEM’s. Ele deve ser lembrado e homenageado sempre. Um ser humano fantástico e um amigo incrível.

Hermílio Nina
Aposentado. Técnico e atleta de Basquete 
 

Alemão foi um educador nato que sempre se preocupou em fazer a garotada preencher o tempo livre de forma correta. Foi responsável por colocar o esporte do Maranhão no cenário nacional. A partir do trabalho dele nossas equipes e atletas chegaram por várias vezes ao tão sonhado pódio. Ele foi um amigo e excepcional desportista.

 Fernando Sarney

Engenheiro, empresário e atleta amador

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