Resumo

Este estudo explora uma abordagem ativista, a fim de desenvolver um protótipo de modelo pedagógico do esporte, para trabalhar com meninos residentes em áreas de vulnerabilidade social, respondendo às seguintes questões de pesquisa: a) qual é o tema central, os elementos críticos e os resultados da aprendizagem de um protótipo de modelo pedagógico?; b) quais processos ocorrem na construção colaborativa do tema central, elementos críticos e resultados da aprendizagem?; c) quais são os desafios e facilitadores no processo de construção colaborativa do tema central, elementos críticos e resultados de aprendizagem? Durante seis meses em 2013, foi conduzida uma pesquisa ação participativa num programa de futebol, em uma área de vulnerabilidade social do Brasil. O estudo incluiu 17 meninos, quatro treinadores, um coordenador pedagógico e uma assistente social. Também uma especialista em pedagogia centrada no aluno e numa abordagem ativista baseada em questionamentos, participou do trabalho como facilitadora (debriefer), ajudando na análise progressiva dos dados e no planejamento das sessões de trabalho. Múltiplas fontes de dados foram coletadas, incluindo: 38 diários de campo/observações e gravações de áudio de 18 sessões de trabalho com os jovens, 16 sessões de trabalho com os treinadores e três sessões de trabalho com os jovens e com os treinadores. Além disso, aconteceram 37 encontros entre o pesquisador e a especialista. O tema central que emergiu foi à necessidade da co-construção de possibilidades de empoderamento, por meio do esporte, para meninos residentes em áreas de vulnerabilidade social. Cinco elementos críticos surgiram quando se trabalhou com meninos residentes nas referidas áreas: a importância de uma pedagogia centrada no aluno, uma abordagem ativista baseada em questionamentos, uma ética do cuidado, uma atenção para a comunidade e a formação de uma comunidade de esporte. Quando os cinco elementos críticos foram combinados, surgiram os resultados de aprendizagem: "tornando-se responsáveis/comprometidos", "aprendendo com os erros", "valorizando o conhecimento um do outro", e "comunicando-se com os outros". O processo de construção colaborativa foi dividido em duas fases. A primeira destinada a entender os meninos e como poderíamos fazer um esporte melhor para eles. Os cinco elementos críticos foram desenvolvidos nessa fase. Os quatro resultados de aprendizagem emergiram na segunda fase (fase ativista), quando os cinco elementos críticos foram combinados e usados em conjunto para desenvolver um programa de liderança. Foi necessário negociar desafios, tais como: "encontrar maneiras de nomear nossas experiências", "falta de confiança no processo", "valorizar e privilegiar o conhecimento de adultos" e "premissas sobre os jovens" na primeira fase. Negociamos esses desafios, permitindo que todos tivessem "tempo para desenvolver relacionamentos", apresentassem uma "disposição de viver na desordem" e serem "pacientes de modo que os elementos críticos pudessem surgir". Na segunda fase, os desafios negociados foram: "premissas sobre os jovens", "valorizar e privilegiar o conhecimento de adultos" e a "cultura do esporte". Esses desafios foram negociados apresentando-se uma "predisposição para aceitar riscos", assumindo "possibilidades transformadoras realistas" e sendo "pacientes para o programa se desenvolver". O esporte pode ser um bem cultural capaz de beneficiar jovens residentes em áreas de vulnerabilidade social, oferecendo-lhes um espaço onde possam se sentir protegidos e sonhar com outros futuros - movendo-se do que é para o que poderia ser

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