Resumo
Esta pesquisa foi realizada na aldeia indígena Guarani M’Biguaçu, localizada no litoral norte do Estado de Santa Catarina, com o intuito de compreender e refletir sobre os processos tradicionais de ensino e aprendizagem, chamado de Nhanembo’e (em Guarani), de uma manifestação ainda pouco conhecida e estudada: a Dança do Tchondaro. Percebendo as inúmeras transformações ocorridas ao longo dos tempos, este estudo aborda as ressignificações culturais dessa aldeia com foco no ensino e na aprendizagem da dança. Tal releitura, contextualizada pelos antepassados guaranis, foi obtida através da oralidade dos membros da comunidade M’Biguaçu, relacionando seu aprendizado aos tempos atuais. O olhar sobre a aldeia enquanto visitante e coparticipante, associado às técnicas corporais, aos rituais e à mitologia, conduziram essa pesquisa a uma tríade: Dança-Corpo-Ritos. Na descrição das danças do Tchondaro, que no total formam oito ciclos, é possível observar como estão imbricados diferentes elementos que norteiam a cultura Guarani, tais como: a pintura, os rituais, as técnicas do corpo, as divindades, a natureza. Desde o início das danças, as quatro que compõem a base, até o nível do Kyreym’ba, que é o mestre Tchondaro, os elementos essenciais, dentro da ótica Guarani, não se fragmentam, mas, se aglutinam nos respeitados movimentos dessa cultura. A prática das danças do Tchondaro, como divulgação cultural é fortemente integrada a um processo de construção de identidade e valorização da cultura, agindo, portanto, como uma importante expressão dos Guarani, capaz de evidenciar a importância de suas expressões artísticas e corporais a partir dos diálogos que exercem com outras culturas.