Mulheres Atletas: Re-significações da Corporalidade Feminina
Por Miriam Adelman (Autor).
Em Revista Estudos Feministas v. 19, n 3, 2011. Da página 445 a 465
Resumo
Aquele homem lá diz que as mulheres precisam de ajuda para subir nos coches, que precisam ser erguidas para passar sobre valetas e que sempre precisam ter os melhores lugares. Jamais alguém me ajudou a subir nos coches, a passar sobre uma poça de lama, ou me ofereceu o melhor lugar! E não sou eu uma mulher? Olhem para mim! Reparem nos meus braços! Trabalhei com o arado para plantar, levei os animais para as estrebarias, e nenhum homem pode mais do que eu. E não sou eu uma mulher? Trabalhei e comi tanto quanto um homem o pode fazer – isto é, quando havia o que comer – e também agüentei o chicote tão bem quanto eles! E não sou eu mulher? Tive treze filhos, e vi quase todos serem vendidos como escravos, e quando minha angústia de mãe me fez gritar apenas Jesus me ouviu, ninguém mais! E não sou eu mulher? (Sojourner Truth, 1797–1833. Abolicionista, oradora, ativista pelos direitos das mulheres e dos afro-americanos, especialmente os escravos libertados e fugitivos. Nascida na escravidão, emancipou-se aos 30 anos de idade).2 Copyright 2003 by Revista Estudos Feministas. Resumo: A par esumo ticipação esportiva das mulheres contribui para uma re-significação da corporalidade feminina? Lembrando da idéia de Susan Brownmiller, para quem a feminilidade representa, na sociedade moderna, uma “estética da limitação”, e trabalhando com noções de gênero e corporalidade advindas particularmente da produção recente de Susan Bordo e Judith Butler, procuro identificar mudanças nas práticas e representações do corpo feminino que decorrem da atividade esportiva. Analiso depoimentos de atletas brasileiras profissionais, algumas praticantes de um esporte de elite (hipismo) e, outras, de um esporte mais popular (o vôlei). Incorporo também a análise de imagens culturais da atleta, como veiculadas nos meios de comunicação. Evidências de pesquisa de campo mostram que, se, por um lado, as atletas de fato participam da “desconstrução” de certos elementos da mencionada “estética da limitação”, por outro, continuam em uma cultura na qual a atividade esportiva das mulheres pode ‘comprometer a feminilidade’ da atleta. Palavras-chave: alavras-chave mulheres atletas, gênero e esportes, corporalidad