Resumo

A sociedade brasileira contemporânea estabelece diferenças sócioculturais para os indivíduos, prescrevendo-lhes normas e valores diferenciados segundo o sexo biológico. Ninguém nasce homem ou mulher, aprende-se a sê-lo através de práticas sociais masculinizantes ou feminilizantes. Nessa engrenagem, o futebol, como fenômeno social, propicia oportunidades desiguais, e, num processo de construção cultural, criam-se idéias sobre os papéis sociais para homens e mulheres, em que a prática do futebol é reserva masculina. Esta pesquisa, inserida no contexto epistemológico da motricidade humana, preocupou-se em interpretar a prática do futebol feminino como conduta e comportamento motor, sob a ótica do gênero. Nesse sentido, o objetivo geral foi investigar a interferência das relações de gênero e as possibilidades de preconceitos e estereótipos na escolha e na prática do futebol por mulheres adultas, com idade entre 18 e 40 anos. Os objetivos específicos tiveram a intenção de: a) Identificar as principais razões que levaram as mulheres à prática do futebol; b ) Averiguar, por intermédio do discurso de mulheres adultas jogadoras de futebol, a interferência ou não das relações de gênero, bem como a possibilidade de existência de estereótipos e preconceitos em relação à prática deste esporte; c) Verificar, mediante articulação entre os dados empíricos e o arcabouço teórico, como se dá a construção das relações de gênero na prática de futebol das mulheres adultas. O problema que norteou esta investigação questiona: "Existe interferência das relações de gênero, bem como dos preconceitos e estereótipos, na escolha da prática de futebol por mulheres adultas com idade entre 18 e 40 anos?" A metodologia utilizada foi de natureza fenomenológica, com dimensão interpretativa de Homem. Participaram 20 mulheres, de dois times de futebol feminino da cidade de Barbacena/MG. Os instrumentos utilizados foram uma entrevista semi-estruturada, a observação participativa e um diário de campo. Os dados da entrevista reportaram-se ao método de Análise de Discurso, com suporte na teoria de Representações Sociais. As observações e o diário de campo subsidiaram as análises. Os discursos evidenciaram três categorias, que desdobraram-se em várias outras subcategorias. Os resultados destacaram as razões pelas quais as mulheres escolheram o futebol como prática esportiva, indicando motivações e influências recebidas; qual a representação que a sociedade tem acerca da mulher que joga futebol, denunciando a existência de preconceitos, estereótipos e discriminações, analisados sob o olhar do gênero; e a relação de poder exercida na prática pelo técnico e também pela capitã da equipe. Ao avaliarem a trajetória do futebol feminino no Brasil, a imprensa é criticada, e as atletas protestam pelos baixos salários e a pouca visibilidade. O estudo permite deduzir que as relações de gênero, preconceitos e estereótipos interferem na escolha das mulheres pela prática do futebol, e que a sociedade brasileira, com base em suas crenças, mitos e valores, ainda discrimina as jogadoras de futebol por motivos sexistas.

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