Resumo

As práticas esportivas e corporais para as mulheres foram controladas e definidas por políticas de Estado, e também por regras de condutas sociais, baseadas no discurso médico-higienista, para o qual as atividades físico-desportivas funcionavam enquanto dispositivos pedagógicos para os corpos femininos respeitando “os limites e as características naturais” de cada sexo. O objetivo desse estudo foi analisar práticas esportivas e corporais das mulheres na cidade de Montes Claros, localizada na região norte do estado de Minas Gerais, no período que engloba o final da década de 1970, e o início da década de 1980. Utilizamos, para compor o corpus documental: notícias de um dos jornais impressos da cidade, Jornal de Montes Claros, e narrativas de cinco mulheres (professoras de Educação Física e atletas) que atuaram no âmbito esporte desta cidade. A Análise de Discurso foi o método escolhido para o estudo, a partir de dispositivo de análise construído com base nas ideias de Michael Foucault, Eni Orlandi e Michel Pêcheux, para entender os discursos que emergem das práticas esportivas e corporais das mulheres montes-clarenses. O gênero foi utilizado para analisar as relações e manifestação de poder, dentro de uma perspectiva feminista e pós-estruturalista. Foi possível inferir que as mulheres montes-clarenses estiveram presentes no âmbito esportivo da cidade, em todos os níveis da organização esportiva (administração/organização de evento e espaços esportivos; como técnicas, treinadoras e atletas). A sociedade montes-clarense não apresentava uma rigidez referente as regras de moralidade burguesa, aspecto que permitiu a presença das mulheres em vários lugares públicos, inclusive no esporte. As mulheres desenvolveram suas práticas esportivas e corporais por meio de processos transgressivos, devido aos discursos médicos e androcêntricos que permeavam as relações de poder, que emergiam no âmbito esportivo, fundamentadas no determinismo biológico, no patriarcado e no sexismo. 
 

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