Resumo

Você já se perguntou sobre os limites entre a busca pelo corpo ideal e a obsessão? Revisamos uma pesquisa que que mergulha nos aspectos socioculturais e psicológicos da Dismorfia Muscular (DM) - percepção distorcida do próprio corpo -  um transtorno que ganha vez mais atenção no cenário contemporâneo e no dia-a-dia do profissional de Educação Física.

Integra

Entenda o essencial

  • A Dismorfia Muscular (DM) é um transtorno caracterizado pela preocupação excessiva com a musculatura corporal, levando a uma percepção distorcida do próprio corpo e causando sofrimento psicológico significativo.
  • O estudo de Azevedo et al. (2012) investigou os aspectos socioculturais, psicológicos e o uso de recursos ergogênicos relacionados à DM, utilizando um questionário aplicado a 20 praticantes de musculação.
  • Os principais fatores de risco associados à DM incluem insegurança social, baixa autoestima, compulsão por treinamento de força, uso de esteroides anabolizantes e hábitos alimentares disfuncionais.
  • A DM pode resultar em consequências graves para a saúde, como overtraining, lesões musculares, problemas decorrentes do uso de esteroides e transtornos alimentares.
  • O tratamento da DM requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de educação física, psicólogos e nutricionistas, com foco na promoção de uma imagem corporal saudável e na identificação precoce dos sinais do transtorno.

Introdução

No cenário contemporâneo, no qual a busca pelo corpo ideal assume proporções alarmantes, emerge um fenômeno psicológico que desafia os limites entre a saúde e a obsessão: a dismorfia muscular (DM). Este transtorno, caracterizado por uma preocupação patológica com a musculatura corporal, representa não apenas um desafio clínico, mas também um reflexo das pressões socioculturais que moldam nossa percepção de beleza e valor pessoal.

Um estudo de Azevedo e colaboradores publicado em 2012, com o título "Dismorfia Muscular: A busca pelo corpo hiper musculoso" buscou esclarecer sobre esta condição complexa. A pesquisa explora as raízes psicológicas da DM, suas manifestações comportamentais e as implicações para a saúde pública, oferecendo informações relevantes para profissionais de saúde, educadores físicos e pesquisadores na área de imagem corporal e transtornos alimentares. 

Como foi feito o estudo

Os autores realizaram um estudo transversal exploratório com vinte indivíduos praticantes de musculação e inscritos em comunidades online sobre Dismorfia Muscular. Os dados foram coletados por meio de um questionário e analisados qualitativa e quantitativamente.

E o que o estudo diz?

Os resultados demonstram que a DM está associada a diversos fatores de risco, como:

Preocupações com a imagem corporal: os participantes relataram sentir insegurança social, baixa autoestima e sentimentos de inferioridade, acreditando que ter um corpo musculoso resolveria esses problemas.

Compulsão por treinamento de força: a maioria dos participantes treinava de forma excessiva, dedicando grande parte do seu tempo à musculação e apresentando sintomas de overtraining, como insônia, lesões musculares e desmotivação.

Uso de esteroides anabolizantes: uma parcela significativa dos participantes do sexo masculino relatou utilizar "bomba", o que pode agravar a distorção da imagem corporal e levar a diversos problemas de saúde.

Hábitos alimentares disfuncionais: a maioria dos participantes seguia dietas restritivas e hiperproteicas, além de consumir suplementos alimentares de forma indiscriminada.

Os autores concluem que a DM causa sofrimento e prejuízos psicológicos, socioculturais e à saúde dos indivíduos. Eles também destacam a necessidade de um trabalho multiprofissional para prevenir e tratar o transtorno.

Relação com outros estudos

Os resultados do estudo de Azevedo et al. (2012) são consistentes com pesquisas que demonstram a associação da DM com a insatisfação corporal, a compulsão por exercícios e o uso de esteroides anabolizantes.

Além disso, os resultados corroboram a ideia de que a DM é influenciada por fatores socioculturais, como a pressão da mídia para que os indivíduos privilegiem a musculatura enquanto fator estético.

Diretrizes profissionais

Os profissionais de Educação Física podem desempenhar um papel importante na prevenção e no tratamento da DM. Algumas diretrizes importantes incluem:

Promover uma imagem corporal saudável: ao evitar situar um ideal de corpo musculoso e incentivar os alunos a buscarem a saúde e o bem-estar, em vez da estética.

Identificar os sinais de DM: ao estarem atentos aos sinais de DM, como a preocupação excessiva com a musculatura, a compulsão por exercícios e o uso de esteroides anabolizantes.

Encaminhar para tratamento: aqueles alunos que apresentarem sinais de DM para tratamento com um profissional de saúde mental.

Trabalhar em equipe: numa abordagem multidisciplinar, em conjunto com outros profissionais de saúde, como nutricionistas e psicólogos, oferecendo um tratamento integral aos indivíduos com DM.

É importante ressaltar que a DM é um transtorno complexo e multifatorial, que requer um tratamento individualizado e abrangente. Os profissionais de Educação Física podem contribuir para a prevenção e o tratamento da DM, mas não devem assumir a responsabilidade exclusiva pelo cuidado dos indivíduos com esse transtorno.

Considerações

A Dismorfia Muscular é um problema de saúde pública que pode ter consequências graves para os indivíduos afetados. É importante que os profissionais de Educação Física estejam cientes do transtorno e de como podem ajudar a prevenir e tratar a DM.

Assim, a promoção de uma imagem corporal saudável, a identificação precoce dos sinais de DM e o encaminhamento para tratamento adequado são medidas essenciais para minimizar os danos causados por esse transtorno.

No universo da pesquisa

Se você se interessa pelo tema e gostaria de expandir os resultados desta pesquisa, elaboramos algumas sugestões:

Ampliação da amostra e diversificação metodológica, incluindo métodos quantitativos mais robustos, como escalas validadas de imagem corporal e/ou conduzindo entrevistas em profundidade para obter dados qualitativos mais ricos.

Análise longitudinal, através de estudo de coorte para acompanhar indivíduos ao longo do tempo para a investigação de fatores de risco e de proteção para o desenvolvimento da DM.

Comparação transcultural, com estudos comparativos em diferentes contextos culturais e análise de como fatores socioculturais específicos influenciam a prevalência e manifestação da DM.

Neurobiologia da DM, com a investigação de possíveis alterações cerebrais associadas à DM usando neuroimagem ou explorando a relação entre DM e desequilíbrios neuroquímicos.

Influência da mídia digital, examinando o impacto das redes sociais e aplicativos fitness na prevalência da DM, assim como o papel dos influenciadores digitais na promoção de padrões corporais irreais.

Desenvolvimento de intervenções, com a criação e teste de programas de prevenção específicos para DM e protocolos de tratamento multidisciplinares.

Perspectivas de gênero, com a investigação de como a DM se manifesta em diferentes identidades de gênero

Referências

AZEVEDO, A. P. Dismorfia muscular: a busca pelo corpo hiper musculoso. Motricidade, v.8, n. 1 , 2012.