Resumo

Esta pesquisa dedicou-se a pensar a autodeclaração em relação a cor com ciclistas que se locomovem de bicicleta na região metropolitana de Belo Horizonte/MG - RMBH. Uma das justificativas para esse tema é o número de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de locomoção, aproximadamente 68.000 na RMBH. Utilizamos um questionário com questões previamente elaboradas. A primeira parte do questionário é dedicada a questões para traçar um perfil de ciclistas e uma segunda parte os sujeitos expressam seus argumentos da vivência em grupo. Após essa coleta ocorreu uma categorização das informações e um tratamento com articulação entre o conteúdo teórico, para apresentar os resultados da pesquisa. De 100 respondentes a autodeclaração quanto a raça contou com as seguintes respostas: 54 pessoas que se identificaram como pardos; 31 pessoas como brancos; e por fim 15 pessoas como pretas; Indígenas, amarelos e não declarantes foram 0. As pessoas que se autodeclararam pardas são 54% dos respondentes e somadas aos pretos totalizam 69% do público participante. Essa soma é realizada seguindo a orientação do IBGE (2013), os pretos e pardos são entendidos como negros na heteroidentificação utilizada nas pesquisas do Instituto, bem como também é reconhecido pelo Estatuto da Igualdade Racial em 2010. Essa pesquisa utiliza da autoidentificação do censo para classificação dos sujeitos quanto a sua raça/cor. Nesse sentido, o sujeito leva em consideração sua ancestralidade, as características culturais de seu local, a relação entre percepção da cor pele, entre outros atributos objetivos e subjetivos. As frentes dos movimentos negros trabalham desde então na conscientização das similitudes entre os negros retintos e negros de pele mais clara (pardo), contudo reconhecem que quanto mais claro dentro dessa paleta de cores menos direitos são perdidos. Um conceito teórico que articula essa ideia é o colorismo. Segundo Silva (2020) o termo colorismo surgiu em 1982, usado pela escritora Alice Walker e consiste na discriminação pela tonalidade da cor da pele, também pode ser conhecido como pigmentocracia. O colorismo se apresenta como uma nova forma de perpetuar a ideia do embranquecimento. Fanon (2008, p. 87) entende que “o colorismo enquanto reflexo da política do branqueamento faz refletir sobre como os efeitos dessa política se atualizam na contemporaneidade, dificultando que o negro possa ser negro, que possa reconhecer sua ancestralidade, sua cultura e seus direitos – inclusive que possa se sentir confortável no seu próprio corpo.” Concluímos que apesar da condição subjetiva presente na autoidentificação racial, presente também na constituição da identidade do indivíduo quase 70% dos ciclistas da RMBH se reconhecem negros. Isso vai de encontro com o entendimento dos teóricos quando se referem a cor de pele e é refletido nas pesquisas do IBGE com aumento da população não branca em Minas Gerais, bem como no país. Sugere-se outras formas de pesquisa para verificar a construção histórico-cultural envolvida na questão, e destaca-se o recorte em que esse trabalho está inserido.

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