Resumo

O Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) vem se consolidar no Brasil a partir da década de 1970, caracterizando-se como manifestação pelo direito à livre orientação sexual. Nos anos 90, há um revigoramento na militância homossexual, com crescente aumento no número de grupos institucionalizados, difundidos por todo o país. O surgimento dessas organizações se caracteriza pela busca de autonomia em relação ao Estado, levando os movimentos a se estabelecerem a partir do modelo de Organizações Não Governamentais (ONGs), que se enquadram no chamado “terceiro setor”. A incorporação dessa gestão social demandou profissionalização, visando à manutenção da qualidade dos serviços e a sistematização de ações. Sendo o lazer uma das áreas de atendimento às comunidades e organizações sociais, pode-se subentender a necessidade de profissionalização da área. Diante desse contexto, o proposto estudo objetiva diagnosticar e analisar o campo de atuação profissional na área do lazer no terceiro setor, tendo em vista compreender o trabalho realizado nesse campo por Organizações Não Governamentais ligadas ao Movimento LGBT. Para tanto, busco analisar as concepções de lazer que permeiam as ações dessas organizações; diagnosticar as ações relacionadas direta ou indiretamente com o lazer; identificar os profissionais responsáveis e atuantes junto a essas ações e compreender o “papel” desses profissionais na organização e no desenvolvimento dessas ações. Assim, apresento como proposta metodológica a pesquisa bibliográfica combinada com a documental e de campo, aplicando a imersão no campo e as entrevistas semiestruturadas como instrumentos de coleta de dados. Foram analisadas duas instituições localizadas em Belo Horizonte/MG, sendo entrevistados seis profissionais que atuam no âmbito do lazer. Ressalto que não há necessariamente um profissional específico envolvido no planejamento, execução e avaliação dessas atividades. Contudo, existe certa aproximação e um maior envolvimento de algumas pessoas frente à organização delas. As ações de lazer são voltadas ao atendimento do público LGBT, mas há abertura para participação de outros sujeitos. Os objetivos dessas ações variam, cabendo a elas desde o trabalho da autoestima até o empoderamento desse público visando a seu protagonismo social. Há uma multiplicidade de ações que envolvem os diversos conteúdos do lazer, das artes às atividades físicas. Em relação aos profissionais envolvidos, a relação estabelecida com a instituição é a da militância, e a atuação nas atividades resulta, na maioria das vezes, do trabalho voluntário. No que tange ao perfil desses profissionais, enfatiza-se a importância do conhecimento da realidade ao se trabalhar com o público LGBT, bem como o domínio do conteúdo; contudo, há a necessidade de maior clareza acerca do conhecimento na área do lazer e da cultura. As concepções de lazer se apresentam de forma diversificada, convergindo no seu entendimento como um tempo, caracterizado por uma busca pelo prazer, mas que não tem relação com as obrigações. Em relação à presença do lazer na agenda do movimento LGBT, acredito não haver clareza por parte dos entrevistados quanto a essa questão; no entanto, apesar de permear as ações das instituições, o lazer não é vislumbrado como sua prioridade. Assim, este trabalho traz algumas provocações que convidam a pensar o campo de atuação profissional em lazer em ONGs LGBT: o planejamento participativo das ações; a utilização e apropriação dos espaços públicos para o lazer; os investimentos no setor; e a conscientização do lazer como direito. Diante do contexto analisado, aponto a Animação Cultural como perspectiva para a atuação no âmbito do Lazer nessas instituições, a partir de uma proposta pedagógica pautada na ideia de mediação, com o intuito de provocar questionamentos acerca da ordem social estabelecida e contribuir para a superação do status quo. 

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