Resumo

O futebol é uma atividade e um discurso que há anos individualiza e identifica e traz orgulho aos brasileiros, dando-lhes uma identidade e marcando seu lugar no mundo. Na busca epistemológica da construção representacional do Brasil como país do futebol, as crônicas de três dos maiores cronistas brasileiros de todos os tempos, Nelson Rodrigues, João Saldanha e Armando Nogueira foram analisadas. Eles ajudaram a caracterizar o futebol brasileiro tendo como predicado fundamental a prática do futebol-arte. Do homem tímido, inibido e humilde, o “vira-latas” de Nelson Rodrigues, o brasileiro se torna o homem genial, repleto de virtudes e qualidades a partir da campanha vitoriosa na Copa do Mundo de 1958. Esses discursos não se circunscrevem ao espaço esportivo, ele adentra outros espaços discursivos e se torna polifônico, dialogando e formando imagens do que é ser brasileiro. Palavras-chave: História, Futebol, Identidade, Representação e Crônicas.O futebol, esporte das multidões, é um jogo simples, que apresenta um número reduzido de regras, porém essa simplicidade não retira as infinitas possibilidades de expressão que se oferecem durante uma partida e que proporcionam grandes emoções. Ele é capaz de levar milhões de torcedores brasileiros à assistirem as partidas nos estádios ou em frente aos televisores, capaz de parar as atividades cotidianas do país em períodos de Copa do Mundo. Objeto que suscita paixões e discussões sempre acaloradas, entre conhecidos e desconhecidos, podendo se tornar inclusive um elemento propulsor de novas afetividades. Nem mesmo as distâncias sociais impedem a construção de diálogos tendo esse esporte como mote. Vencendo espaços, que de outra forma seriam de difícil superação, este esporte é capaz de unir, de criar uma linguagem comum do “flanelinha” ao Presidente da República. Assim sendo, o futebol é um elemento marcante da identidade brasileira. Ele é capaz de engendrar sentimentos completamente díspares: alegria – tristeza, amor – ódio, delírio – desprezo, realização – fracasso, entre muitas outras possibilidades. O futebol, durante muito tempo, foi entendido pelas ciências sociais como um instrumento capaz de distanciar o povo das “verdadeiras preocupações”, dos seus “problemas mais urgentes”. Dessa forma, ele estaria se prestando ao processo de alienação das massas, sendo entendido até mesmo como o “ópio do povo”, expressão usada e combatida por Roberto DaMatta (DaMatta, 1982: 21-23). De fato, a relação entre o futebol e a sociedade está culturalmente demarcada, não é algo evidente e natural, mas sim construída. Há uma relação de interdependência envolvendo o esporte e a sociedade, sendo um parte integrante do outro. Ele é uma das formas pela qual a própria sociedade se expressa.

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