Resumo

Este artigo discute o livro O negro no foot-ball brasileiro (1947), de Mário Filho, colocando em evidência, em um primeiro momento, a crítica que o autor faz aos “saudosistas”. Esses seriam os detentores da memória oficial sobre o futebol e responsáveis por escamotear a contribuição dos negros na consolidação do esporte no Brasil. A partir dessa investigação e amparado pelas reflexões de Fernando Catroga sobre memória, historiografia e poder, o artigo propõe que Mário Filho elabora o seu livro como um contraponto à memória dos saudosistas, até então hegemônica, na disputa pelas visões sobre o passado. Um segundo movimento analítico explora as estratégias narrativas de Mário Filho na construção de seus argumentos. Para isso, utiliza considerações de Benedict Anderson sobre o processo de constituição imaginária das nações a fim de estudar como a história do futebol recebe, em O negro no foot-ball brasileiro, um sentido histórico unívoco a partir de um processo de “tradução cultural” de um esporte originalmente inglês em direção ao seu “abrasileiramento”. Por fim, o conceito proposto por Henrique Estrada Rodrigues de “ensaio de formação” é mobilizado para compreender a obra como partícipe de uma tradição intelectual que remonta às produções ensaísticas dos anos 1920 e 1930 e, por isso, comparações com pensadores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são feitas com o intuito de analisar como a carga positiva da miscibilidade, a aversão à forma fixa, a espontaneidade e a capacidade de improviso foram concebidas por Mário Filho como um caminho a ser seguido pelo Brasil para além dos muros dos estádios

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