Resumo
O Recôncavo Baiano é uma área na qual diversas manifestações populares de matriz cultural afro-brasileira estão preservadas, como é o caso do samba de roda, do maculêlê e da capoeira. A capoeira possui um discurso político de resistência que sustenta tal identidade cultural. Esta pesquisa se inicia perseguindo uma linhagem de capoeira angola remetida ao Recôncavo Baiano, em especial à cidade de Santo Amaro. Buscando articular igualmente os planos da história e da experiência narradas por essa linhagem, se deparou com uma capoeira diferenciável. Em seus resultados compreende que o que é atualmente conhecido por capoeira se desenvolveu a partir de processos históricos. Para compreendê-los recorremos ao universo carioca do início do século XIX, quando os primeiros documentos sobre capoeiras aparecem. Entendemos esse contexto enquanto uma determinada forma de reprodução das relações sociais, comprometidas com o escravismo, resultando numa mobilização do trabalho particularmente experimentada pelos capoeiras, por meio da perseguição e prisão empreendidas pelo nascente Estado nacional. Num comparativo com o Rio de Janeiro, analisamos o Recôncavo Baiano das relações de produção canavieira, e o seu desenvolvimento no pós-abolição, implicadas em particulares formas de controle sobre os trabalhadores. A criminalização da capoeiragem em 1890 seria então um momento em que esses contextos particulares foram articulados. Essa análise apontou que por meio da capoeira é possível discutir criticamente o processo de formação das relações de trabalho no Brasil, tendo como anteparo a própria constituição do Estado nacional, culminando com o reconhecimento da capoeira e sua descriminalização a partir da década de 1930. Tais aspectos são representativos para compreender o lugar que o capoeira, em sua transformação em capoeirista, vai experimentar.