Resumo

O aprofundamento do conhecimento científico quanto à fisiologia e anatomia humana, bem como, ao desenvolvimento de técnicas, cada vez mais complexas, de melhorar o desempenho físico e retardar os efeitos biológicos e psicológicos provocados pelo envelhecimento, constitui-se em conquista notável, possibilitando a um grande número de indivíduos idosos usufruírem de padrões de boa qualidade de vida há pouco tempo impensáveis. No caso específico do idoso, contemporaneamente, o consenso científico admite sua inserção no universo das práticas esportivas desde que caracterizadas como suaves, não desgastantes ou agressivas. No âmbito psicológico e social a atividade física incentiva a socialização entre iguais, o prazer e alegria de manter-se apto e independente. Em qual categoria se deve enquadrar o idoso que tem um estilo de vida relacionado à competição atlética e que procura manter e ultrapassar barreiras, mesmo em faixa etária nas quais os indicadores biológicos e da performance apontam a necessidade pela procura por atividades mais moderadas do que o esporte competitivo? Na abordagem de Bourdieu, a constituição de um estilo de vida admite parcela de racionalidade e subjetividade na opção por se tornar e se manter fisicamente ativo. Porém, inclui na discussão a influência de fatores como: classe social e econômica; níveis de educação formal; relações de poder intra e entre grupos sociais; idade; gênero; percepção social, entre outros, que irão constituir um habitus. Ou seja, uma segunda natureza expressa no ethos, traduzido pelos valores de classe, a moral cotidiana posta em ação de maneira não consciente ou reflexiva e hexis corporal, que se define pelas posturas, pela forma de se locomover, de falar e de gesticular, o que denomina de fisionomia social do corpo. Investigando um grupo de 15 atletas veteranos de basquetebol e 5 corredores de rua que se mantém ativo e competitivo, procurou-se identificar fatores de influência na construção de seu habitus esportivo, bem como, suas percepções a respeito de atividade física e competição na terceira idade e o seu relacionamento com o campo do esporte. Observou-se que essa disposição para o esforço físico, para a disputa agonística, revelados na tenra infância, marcará o percurso de vida da maioria dos entrevistados, que mesmo impelidos por circunstâncias que os obrigaram a se afastarem da prática esportiva, sempre a ela retornaram de variadas maneiras, como atletas, dirigentes, incentivadores etc. Na maturidade e na velhice, esta longa convivência com o esporte lhes confere lugar distinto, por serem detentores de um capital simbólico significativo expresso na higidez física, na ampla rede social que frequentam e pela possibilidade de serem vistos como modelos a serem seguidos. Antes de aceitarem o modelo fragilizador que caracteriza as intervenções políticas, teóricas e práticas para o esporte na terceira idade, os atletas masters reivindicam um espaço no campo do esporte para o rendimento, competindo de acordo com as regras e a organização, próprias do modelo olímpico. Citius, Altius, Fortious continua a ser a referencia para esse grupo.

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