Resumo

Este trabalho estuda o Parque Municipal de Belo Horizonte tentando compreender relações entre natureza e divertimento. O recorte temporal é de 1894, quando é instituída a Comissão Construtora da Nova Capital, até 1928, quando o Conselho Deliberativo discute a construção de novos parques na cidade. Foram utilizadas atas do Conselho Deliberativo, relatórios de prefeitos e iconografia. Pesquisas sobre a história dos divertimentos têm tratado sobre a importância da existência deste espaço para diversão e sociabilidade desde o planejamento da cidade e sobre práticas esportivas que tiveram o parque como palco. Todavia, embora alguns tragam pistas de que esse espaço, como o restante da cidade, seguia princípios higienistas (RODRIGUES, 2006), pouco se problematizou sobre as práticas de divertimentos ao ar livre, junto à natureza. Os resultados mostram que entre as construções consideradas indispensáveis para a inauguração da cidade, constava o parque. Embora não tenha sido construído na íntegra, cumpriu o papel de ser um dos “marcos indestructiveis da cidade futura”, sendo até a atualidade referência de natureza preservada. Isso embora a natureza tenha sido transformada, fabricada por meio de muitas intervenções no espaço onde foi construído, como terraplanagem; tubulação de córrego; construção de pontes, viveiro, quiosque; abertura de alamedas; plantação de árvores específicas agregando “gosto e arte” ao local e plantação de grama. Ações que seguiram princípios da engenharia sanitária que buscava criar lugares sadios e bons para preservar a saúde pública “[...] de todas as circumstancias pathogenicas (...) inherentes ás más condições naturaes do meio em que foi collocada a agremiação urbana (...)” (RELATÓRIO, 1899-1902). A ênfase dada ao parque e sua localização na área central da zona urbana da cidade corroboram com a afirmação de Oliveira (2012) de que a abertura de parques públicos e a criação de jardins também foram medidas essenciais para criação de uma cidade salubre. Um dos indícios de sua relação com a saúde é, em 1922, ser discutida e aprovada no Conselho Deliberativo da cidade a proposta de se construir um balneário no parque.

Referências

BELO HORIZONTE. Coleção Relatório de Prefeito. Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, volume 1899-1902.

OLIVEIRA, Carlos Alberto. A nova capital em movimento: a reconfiguração dos espaços públicos em Belo Horizonte (1897-1930). Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2012.

RODRIGUES, M. A. A. Constituição e enraizamento do esporte na cidade: uma prática moderna de lazer na cultura urbana de Belo Horizonte (1894-1920). 338 f. Tese (Doutorado), Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2006.