Integra
“Navegar é preciso, viver, não é preciso”, diziam navegadores antigos, citados por Fernando Pessoa em seu livro de poemas do início do século passado (Navegar é preciso). Ele complementou: “Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para casar com o que sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar”. Preciso pode ser algo exato ou algo necessário.
O grande poeta português não viveu muito (1888 – 1935) e sua obra só ganhou reconhecimento a partir da década de 40, quando a comunicação em geral era muito mais lenta e restrita do que nos dias atuais. Seus poemas, desde então, navegam prestigiados pelos quatro cantos do planeta. Mais tarde (1969) Caetano Veloso cantava “Os argonautas”, repetindo os primeiros versos: Navegar é preciso, viver não é preciso... referindo-se às incertezas do viver.
Navegar, hoje, tem um significado adicional, essencialmente virtual. Tudo é imediato e abrangente nessas novas rotas na internet. Sim, navegar é, atualmente, mais preciso do que nunca; uma questão de vivência e sobrevivência, num mundo cada vez mais instantâneo e impessoal.
No meio acadêmico e profissional (e cada vez mais em nossa vida cotidiana) a Inteligência Artificial nos permite navegar por mares intermináveis e na velocidade da luz. Mas isso se dá, não nos enganemos, por rotas conhecidas. “A bússola que a IA oferece aponta para direções já traçadas, não para territórios por descobrir”, bem disse Gabriel Teles (Jornal da USP, set 2025).
Navegar e viver se dão por decisões que tomamos (ou que são tomadas por nós) várias vezes em cada dia. Há quem acredite que nossos percursos já estão traçados por vontade divina. Há quem acredite em destino, sorte ou acaso. Observar o mundo em nossa volta, refletir e tomar decisões bem-informadas determinam nossos destinos e, mais importante, nossas rotas. Podemos estar em barcos diferentes, em rotas distintas - mas estamos todos no mesmo mar. E não é o mar agitado que faz grandes marinheiros: é na calmaria que mais se aprende. Navegar é preciso... aprender sempre, criar e conviver, é necessário!
Grande abraço.
Markus Nahas