Resumo

Investiga-se a criação e o funcionamento do Serviço de Recreação Operária (SRO); fundado em 1943; pelo Ministério do Trabalho; Indústria e Comércio; durante a gestão de Alexandre Marcondes Filho; com o objetivo de coordenar o lazer dos trabalhadores e de suas famílias. Apesar de atentar para as perspectivas de controle e de manipulação do Regime; a análise avança; na medida em que não considera os operários como massa passiva e manipulável diante daquele que era visto como a expressão do poder dominante; o presidente Getúlio Vargas. A pesquisa ressalta; ainda; que as atividades organizadas pelo Serviço; mesmo que fortemente marcadas pela ideologia estadonovista; poderiam oferecer; à fração do operariado que as usufruía; a entrada em um universo de outros conhecimentos e linguagens que poderiam lhes dar chances de ampliar sua compreensão sobre o mundo e lhes fornecer mais instrumentos para nele se movimentar. Neste estudo; não se acredita que a criação desse órgão tenha sido resultado da inteligência de um único homem. Entende-se que seja uma resposta a demandas referidas a instâncias normativas nacionais e internacionais; que são: Ministério do Trabalho; Indústria e Comércio; patronato industrial e comercial; Organização Internacional do Trabalho; Encíclica Rerum Novarum e movimento operário. Partindo do princípio que os discursos emitidos nessas instâncias e postos a circular eram reapropriados; modificados; fragmentados; substituídos e realocados; acredita-se que; nesse jogo de relações e de comunicações; formou-se um campo de presença que tornou possível a criação do SRO naquele momento histórico específico. Sua emergência; portanto; é original e referida a um contexto no qual a questão do trabalho era central. O conjunto documental tratado foi composto por: artigos publicados no Boletim do Ministério do Trabalho; Indústria e Comércio; na revista Cultura Política; no Jornal do Brasil; palestras de Marcondes Filho; discursos de Vargas; relatórios da Associação Comercial do Rio de Janeiro e primeiro Relatório do Serviço de Recreação Operária. Dessa forma; reunindo e correlacionando enunciados dispersos relativos às questões do tempo de trabalho e do aproveitamento das horas de recreio; concluímos que o SRO; além dos objetivos claramente explicitados na Portaria de sua criação; teve cinco intenções: a) estimular a sindicalização; b) integrar o conjunto de realizações que possibilitam a concretização do discurso político da época acerca da preocupação do Estado com aspectos da vida do trabalhador; situados para além da proteção das leis trabalhistas e do amparo da previdência social; c) controlar e disciplinar o tempo livre do operário de modo a promover uma mudança em seus costumes lúdicos; d) sistematizar uma experiência de educação não-formal do trabalhador e elevar seu nível cultural; e) recuperar a energia física e mental do operário de modo a prevenir os efeitos da fadiga.

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