Resumo

As fronteiras entre o pensamento antropológico, em especial a Antropologia da Saúde e do Corpo, e a Educação Física são ainda pouco exploradas. Existe uma grande diversidade étnica e cultural entre o que se costumou chamar «povos indígenas» no Brasil. Esta diversidade também pode ser apontada em termos de construção e representação corporal de cada grupo. Os Kaingang, grupo Jê Meridional, mesmo sendo considerados de alto contato em relação à sociedade envolvente, mantém saberes tradicionais e específicos em relação às noções de corpo, saúde, doença e cura. Essas noções envolvem um caráter cosmológico e pensado de uma forma mais totalizante. Aocontrário, a visão da Biomedicina sobre essas mesmas noções é feita de maneira cartesiana, fragmentada, localizada. A partir de uma pesquisa de campo feita ao longo dos últimos dois anos entre os Kaingang de Palmas/PR, estabeleci etnografia do grupo, concluída com dissertação de mestrado em Antropologia Social. Parte de meus dados dão conta da construção e das representações corporais comuns ao grupo. O Objetivo deste trabalho é mostrar o quanto a utilização apenas dos saberes científicos biomédicos pode estar dessintonizado das realidades culturais locais de cada grupo indígena no Brasil e em particular os Kaingang; e o quanto o conhecimento antropológico à respeito das diversidades culturais pode ser enriquecedor em relação às pesquisas sobre o corpo.