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Neste momento, Pedro Curi Hallal, representa todos nós, especialmente pesquisadores, cientistas e profissionais da saúde que se encontram na primeira linha de enfrentamento ao SARS-CoV-2. Atacá-lo, com o objetivo de desqualificá-lo e desacreditá-lo, é uma ação que atinge cada brasileiro, pois seus estudos têm procurado propor políticas públicas de promoção da saúde, especialmente da população mais vulnerável.

Por isto, nós do Centro Esportivo Virtual, publicamos esta nota de apoio ao Dr. Pedro Curi Hallal e elencamos alguns pontos que justificam a necessidade de reconhecer que um cientista sob ataque de campo ideológico e negacionista precisa do suporte da sociedade, da comunidade científica e, especialmente, de sua área para que possa desenvolver sua função com transparência e focado no que mais importa: neste caso, contribuir para evitar mortes desnecessárias.

No início deste ano, o pesquisador e ainda Reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, se posicionou contra a nomeação para Reitora do segundo nome constante na lista tríplice enviada à Presidência da República pelo Conselho Universitário da UFPel. Não pela pessoa, pois a própria Reitora nomeada, Professora Isabela Fernandes Andrade, também discordou, ambos baseados no princípio que norteia as comunidades das universidades brasileiras que consta na Constituição Federal: a autonomia universitária.

Em outro momento, há aproximadamente dois anos, o Dr. Pedro Hallal se posicionou em defesa das universidades brasileiras, como respostas aos cortes de verbas determinados pelo Ministério da Educação em 2019, promovendo lives e debates com a comunidade da UFPel e manifestando-se durante passeata que lotou as ruas de Pelotas. Não é uma novidade, mas nos tempos atuais é uma posição que se destaca na multidão e é uma forma de resistência as posturas irracionais de desmanche da Educação e da Ciência brasileiras patrocinadas pelo Presidente da República — prova disto é que em algumas universidades houve nomeações de reitores não eleitos por suas comunidades.

Entretanto, o debate político que deveria ser travado foi substituído por ataques pessoais e ameaças funcionais, inclusive com a participação do Presidente da República, utilizando as redes sociais para desqualificar o Dr. Pedro Hallal. 

Este ataque não é o primeiro. No início da pandemia, Dr. Pedro Hallal, epidemiologista, desenvolveu um estudo para acompanhar a disseminação do SARS-CoV-2 no Brasil, denominado EPICOVID-19. Os resultados não agradaram a Presidência da República — leia-se a ala ideológica que cerca Jair Bolsonaro — que, através do Ministério da Saúde, cortou as verbas do EPICOVID-19, maior estudo epidemiológico no Brasil sobre a COVID-19. Felizmente, houve suporte de outras fundações para a continuidade deste estudo.

Neste momento, já foram ceifadas mais de 215.000 vidas de brasileiros que, por inépcia e inércia do Presidente da República, além do negacionismo sobre a gravidade da situação. É absurdo termos de alertar a sociedade brasileira para as perseguições que são promovidas pela Presidência da República, desviando do principal, ou seja, das dezenas de milhares de vidas perdidas e da necessidade de solução eficaz e urgente para evitarmos o crescimento deste número — a média desta semana está acima de mil vidas perdidas por dia e não falamos do estresse pós-traumático ou síndrome de Burnout, entre outras doenças, que acometerá alguns dos profissionais da saúde que precisam enfrentar essa tragédia diariamente.

A situação do Brasil é distópica. Trabalhar pela ciência voltou a ser heresia. O ataque ao Dr. Pedro Hallal, pelo Presidente da República, mostra o quão isto é verdadeiro e quão desconectados da realidade estão os habitantes da Praça dos Três Poderes, especialmente o executivo federal. É inaceitável que aquele indivíduo que adoece, como consequência da inação dos gestores públicos, com destaque ao Presidente da República, precise se justificar, sendo que, possivelmente, estava trabalhando em defesa de todos os brasileiros no momento que foi infectado.

É preciso que os brasileiros percebam o perigo da situação e deem o suporte para que a ciência volte a ser a base motriz do desenvolvimento do Brasil.

São Paulo, 23 de janeiro de 2021.

Carlos Alex Soares & Laércio Elias Pereira
Centro Esportivo Virtual